The Lair of Seth-Hades: abril 2010
Arte: Meats Meier - http://beinart.org/artists/meats-meier/gallery/meats-meier-2.jpg

Presente do amigo Zorbba Baependi Igreja - artista plástico, poeta e um dos idealizadores da Revista Trimera de Letras e do Projeto Academia Onírica [poesia tarja preta].

LIRA ANTIGA BARDO TRISTE & LIRA NOVA BARDO TARDO

Galera, estou pondo uma conta PagSeguro à disposição, para quem [assumindo o risco por sua própria alma] tenha interesse em adquirir um de meus livros [Lira Antiga Bardo Triste ou Lira Nova Bardo Tardo]. O custo de cada exemplar é de R$ 10,00 + R$ 5,00 de frete. Valeu! :D

P.S.: a PagSeguro não fornece um sistema de cadastro de vários produtos, de modo que, quem efetue a compra, deve me enviar um e-mail [iarcovich@hotmail.com], ou mesmo me deixar 'comment' aqui mesmo num dos 'posts', dizendo qual exemplar deseja receber. Por hora, a forma de pagamento disponível é apenas a de boleto bancário. Amanhã já liberam pra cartão. ;)

Pag Seguro - compra dos livros

Carrinho de Compras

domingo, 25 de abril de 2010

NOCTÍVAGO


NOCTÍVAGO

De tudo o quanto trago em mim
A tudo regurgito num só trago
Em vão intento desbravar assim
O véu que nos perturba, aziago

Fio olhos na noite, qual se mago
A querer emaranhar contrafeitiço
Nas malhas enoitadas onde vago
Nos céus de curiosidade eu atiço

Desejos e vontades, desperdício
Dos dias e das horas e das noites
E sou acoimado em seus açoites
Não posso me furtar a este vício

Que vejo que pudesse elaborar
E o preço de pagar então eu pago
Um mínimo minuto a mais criar
Imerso neste sonho me embriago

De sendas tão soturnas, andarilho
Persigo nestas curvas o teu brilho
Que sob o véu místico das brumas
Quer que tanto dure que não sumas

Quisera então o teu menor afago
De ninfa inspiradora que me dita
E na profusão de quase um lago
Minha futura conta é que debita

Os anos que perdidos e sem sono
Das rédeas é que fosse eu o dono
No controle é que poder quisera
Domar-me o que de voraz e fera

E sigo e sou sedento pelo novo
O passo a mais de mim me movo
E o sol que se agiganta preludia
Nascer de algo novo a cada dia

Francisco de Sousa Vieira Filho

ARTE: Luiz Royo

quarta-feira, 21 de abril de 2010

DA ANCESTRAL FALA



DA ANCESTRAL FALA

Na dança dos sentidos
E dos corpos e das almas
Não se fala
A língua cala,
Quando os corpos dançam,
E as almas sentem.
Na linguagem ancestral
E táctil da pele
É que se lêem,
Os mudos olhos que se fitam
E os lábios semoventes
Que, sem som, se entendem.
E num cadente murmurar
De pétalas orvalhadas
Desfolhadas
Sob o bater do galho
Em seus açoites
Faz que chova
E em flores, fertiliza,  
Pela força
Desses ventos
Imperiosos
De par em par.
E se sucede
Em meio a sons,
Tão ancestrais
Quanto o vagir
Do nascituro,
O mais desejado
E benfazejo
Silêncio.
E a solidão
– Seu triste pouso – 
Já não é mais
Que um lugar onde,
Outrora, habitaram duas
Consciências separadas
Que num só,
No mesmo sol-lugar,
[Qual se uma só e já sem nós],
Hoje, planam,
Asas estrelaçadas,
Vôo cadenciado,
A entoar o verbo atemporal
Do infinito;
Restando apenas
Um hiato de lábios entreabertos
Entre o medo, a maravilha
E o êxtase.

Francisco de Sousa Vieira Filho

ARTE: 09ccfc07cc9669d33f587c3507181d42c15867ab_m.jpg [fffound]

terça-feira, 20 de abril de 2010

EU-CAMINHO



EU-CAMINHO

Certa vez me disseram
Que o fim é o meio
E mais importa ao caminheiro
Caminhar
Que ao fim do caminho chegar;
Disseram ainda:
A luz não está no fim do túneo,
Mas nas mãos de quem palmilha
O caminho;
E certa vez eu li:
Querer chegar
É já ter percorrido a metade dele;
E encontrar seu fim
É mera conseqüência da procura;
Agora eu digo:
Somos o caminho
Que ao palmilhar mudamos...
E que mais faz o caminheiro
Senão o seu caminho caminhar?
Mais importa ao caminheiro
O caminho caminhar.
É que mais razão não há
Em perseguir o fim do caminho,
Que o caminho é fim em si,
E já não meio.
E encontrar seu fim
É mera conseqüência
De havê-lo decidido trilhar
Lá de início.

Francisco de Sousa Vieira Filho

ARTE: http://luca-de-bellis.deviantart.com-art-Arles-159748007[Arles_by_Luca_De_Bellis].jpg
&
http://fc77.deviantart.com/fs28/i/2008/052/e/0/together____for_ever____by_WiciaQ.jpg 

quarta-feira, 14 de abril de 2010

DE TINTA E CUNHA





DE TINTA E CUNHA

Nem tudo precisa de um porquê. Nosso modo Ocidental [de pensar, de agir, de viver] quer sempre buscar por um – um porquê, uma razão, uma ordem, uma lógica. Queremos uma seta, uma mira e um alvo. Queremos um móvel e um motor. Queremos um destino [e veja o desatino], não apenas isso, não apenas fim, mas começo e meio também.  Queremos o caminho fácil, traçado no mapa da ilusão, e que haja tesouros ao fim da jornada sem-fim. Queremos a certeza num universo de incertezas. Mas, sim, neste caso específico, há bem um porquê – e com um quero dizer sejam vários [desvarios, melhor se diria]. A resposta fica a depender do momento, do texto, do estilo, do que mexe, do que move [e que nos move também]. E daí o porquê de dizer já não diria apenas um, mas alguns [porquês]. Pois bem: ora escrevo por catarse, pra purgar e expulsar. Externar seria muito comedido pra poder expressar a pungência da idéia. Ideal mesmo seria: “botar pra fora”. Escrever aí é terapia. A intenção é a de, quem sabe, olhando no espelho do mundo o que outrora dentro esteve [e, por vez, ainda está], possa melhor analisar, divisando os meandros do que se extraiu. Ainda que, por vezes, o que se extraia seja horrendo, por vezes, belo, por vezes, cause choque e espanto, por vezes, seja apenas vômito a ser rejeito, mas, por vezes, é ainda pedra bruta a lapidar na alma. E, por meio de tal análise, seja lá o que vier, sonho então possa um tal procedimento viabilizar a cura. Ora escrevo só pra mim, por puro prazer, por gozo e pela arte  – pelo puro e lúdico gosto de apenas brincar com as palavras [por vezes com os sons], tal qual um jogo, um duelo que se trava em meio ao abismo que há entre o símbolo e a idéia. Ora escrevo pros outros, pela paga de um simples e bobo elogio, e ainda pra cutucar, pra mexer, pra 'causar', pra chamar, pra gritar e até pra acordar. Ora escrevo por exigência – 'ossos do ofício' – pra convencer, pra defender, pra turvar, pra mentir e enganar [embora reconheça a arte engane mais – e bela seja ao menos]. Ora escrevo porque sinto faz parte do que sou [e cause estranheza talvez o fato de que alimento é algo de que se nutre, algo que adentra, algo de que se constitui e passa a fazer parte] mas é dela [da escrita] que por vezes me alimento [embora de mim é que ela advenha – Advém? - Torço não seja excremento]. Escrever é então uma necessidade – tal qual a de respirar. E nem sempre dá pra parar a despeito dos imperativos do dia-a-dia a berrar sua maior urgência, pois a urgência maior é viver a alma em seus longos haustos. Escrever aí é desnudar-se – e se é pra fazê-lo, que seja sem pudores [inda que o que a nudez revele nem sempre seja belo ou digno de apreciação]. Ora escrevo porque então é a letra que impera e a íntima voz que comanda. E como se me ditassem as palavras que me vêm da mente, assim elas são. E tão belas e fortes em ímpeto de idéia que mal as mãos se prestam a tão rápido transcrever os signos, as rimas ou as metáforas sem que a mente a tudo perca. Ora escrevo só... E ora escrevo, pois palavras são só signos, nada além – e mais importam as idéias a que elas, palidamente, tentam se reportar e representar, ocultando-as sob o véu e a máscara. Escritos, sejam lá quais forem, falam quase sempre do que não podemos transmitir a outrem com nossos signos primitivos. E ousar escrever é reconhecer, sem frustração, nossa incapacidade de comunicarmos certas idéias e sentimentos – e, sobretudo, perceber haja beleza nisto. É por isto que ora só escrevo e sem mais: sem razões, sem instâncias que lhe confiram mote, ordem ou direção – motor, móvel ou pulsão. E escrevo porque há uma mágica e as palavras são como runas que nos transportam para outros mundos e nos conferem dons que nem imaginávamos possuíamos e nos aproximam dos deuses. Ora só escrevo... e  chego a bendizer, quando não a amaldiçoar, não o dia em que os Fenícios fizeram traçar mágicos signos em forma de cunha em pequenas tabuinhas de barro, do mesmo barro de que fomos feitos [sendo então co-criadores de uma criação sem-fim, o Criador se dando a conhecer pelas criaturas, como a árvore se dá a conhecer pelos frutos], mas o dia, aquele perdido dia, oculto na noite dos tempos, em que um bando de primatas ousou misturar os sumos de flores e frutos pra registrar vida e o que quer que seja – em cores vivas – nas paredes de suas cavernas... “Escrevo porque o instante existe...”  e desejo imortalizá-lo, e até mesmo o que nem exista ‘ainda’, e a quem interessar possa...

Francisco de Sousa Vieira Filho

ARTE: http://fc05.deviantart.com/fs24/f/2008/006/8/c/Truth_by_damnengine.jpg        
&
http--8.media.tumblr.com-ly47ZbUwGja7uwn9wVDsdQeuo1_400

terça-feira, 13 de abril de 2010

JANELA DA ALMA





JANELA DA ALMA

A janela pela qual se olha fora
Mira cá o que se faz de dentro
E, nesse faz, se perde a hora
E se é porta, n’alma adentro

E se for tredo o lusco-fusco
E se goteja orvalho em flores
Se com maior vigor te busco
Ainda mais te vejo as cores

E se lhe ocorra a sinecura
A si conserva a alma escura
Por não querer linhas cifrar
E a simples réstia decifrar

Incrível possa ser tão belo
Com parecença quer seu elo
Tão belo seja é o que me soa
Se a referência inda lhe doa

Pois seja a alma um labirinto
A ocultar que seja em flor
E em si conter tudo que sinto
Divino incenso e seu olor

Francisco de Sousa Vieira Filho

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D'ALMA

Belas as janelas
E o que se oculta
Por trás delas


E se diga sempre
Quanto da lua
N'alma adentre

Francisco de Sousa Vieira Filho
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ARTE: http://28.media.tumblr.com/tumblr_kyjp1yWNtS1qzs56do1_500.png

domingo, 11 de abril de 2010

GNOTHI SEAUTON



GNOTHI SEAUTON *


Das coisas do espírito, não se tem, se é
Das coisas que do corpo só provém, má-fé
Se quer a si guardar um só vintém que até
Acaba a si perder, sem saber quem, que é

Na tola luta vã que em teu porém te quer
Desprezas, que se é, ao que se tem qualquer
Que seja uma tal nota do que bem quiser
E ao mais se faça troça dos que sem um é

Ignora a si consuma em fogo sem Javé
És servo de Mammon, de quem se diz Pajé
E ‘ele’ que não serve a um ninguém, sequer
A ti que só dará do seu desdém, pois é

E é teu o teu legado por refém, sem fé
No culto que das coisas que se tem, evoé
Deixaste desprezado o sábio e zen, areté
Que lembra que uma alma não se tem, se é

Francisco de Sousa Vieira Filho

FOTO: Edson Fragoaz - www.168perdoes.com.br/

* conhece-te a ti mesmo - lema e baliza utilizado por Sócrates, presente no oráculo de Delfos 

quinta-feira, 8 de abril de 2010

ESFINGE DOR


ESFINGE DOR


Dizem do perfume
Que ele singra mares,
Que se eleva ao cume
Siga em outros ares.
Invade-nos as narinas,
E desnuda os véus
[Sutis do mundo dos sonhos]
Se redesdobra em cortinas
E desbrava os céus
A rememorarem tristonhos
O que ora se ficou
E se então acolhe vírgulas
E se nunca diga ou
É que até de reticências
Consome as referências
Que ele atropela aos pontos
A continuar e sempre
Pois até que fiquem tontos
Nos ciclos que adentre
Não se dá outonos
Sem arreios, nem peias
Não admite donos
E sempre a mancheias
Segue transbordante
Pois se num instante
É dos verbos velozes
Seu mais afável amigo
E zomba dos algozes
A cortejar os seus favores
Se nesta via que sigo
Deixa rastros multicores
E redescubro então
Que nos invernos
A beijar-se em dores
Seus abraços ternos
O façam malquisto
Mas se vibra no verão,
Não é nem por isto
Que lhe pulsa o coração
Que da prima Vera
É o seu querido, amado
E mais dileto filho
Nada mais que mera
[Ilusão]
Dizem poder senti-lo
Mas ninguém lhe vê
E nessas cores tinge
Imaculada esfinge
És fingidor

Francisco de Sousa Vieira Filho

ARTE: http://fc44.deviantart.com/fs27/f/2008/160/d/8/GenericPostApocalypticShaman_by_jeffsimpsonkh.jpg

quarta-feira, 7 de abril de 2010

INCORPORANDO CLARICE


INCOPORANDO CLARICE

— Espero tudo esteja melhor quanto àquilo que te chateava ontem.

— Tá... tô melhor sim [...] tô melhorando...

— Hum... que bom então...

[...]
 
— Calada... caladinha... quase monossilábica... [risos] tá tudo bem mesmo?!

— [risos] Mais ou menos... É que essa semana muita gente tá tentando me analisar... tô quase virando um caso de estudo...
                       
— Hummm... entendo... é complicado... ser observado, analisado, dissecado, pesado, medido; ver fazerem e refazerem tudo de novo... I hate it!

— Hum rum. Exatamente. Me senti exatamente assim.

— Fosse Clarice Lispector te aconselhando, ela diria algo do tipo: sorria, você está sendo filmada. Aproveite o momento. Faça pose. Dê o que querem. As pessoas, às vezes, adoram um circo. Seja uma felina. Uma felina de circo. E uma felina feroz, a despeito da jaula. E morda, morda de vez em quando. Vão sentir o quanto o revés é ‘bom’, quando forem eles ‘os observados’. Observados por olhos de caçadora.

—  Adorei! Tava procurando algo forte assim pra descrever como me sinto. Me manda na íntegra, vai!

— Oxe, eu que escrevi [risos]. Fiz de bate e pronto agorinha mesmo...

—  Ah, só se incorporou Clarice... [risos]

Francisco de Sousa Vieira Filho

ARTE: http://fulviodetoni.files.wordpress.com/2009/08/clarice-lispector-23.jpg

terça-feira, 6 de abril de 2010

SENTINELA


SENTINELA

Na solidão das febres outonais, ele te vela
E zeloso te protege, qual se anjo querubim
Na malquista das horas, ele logo se revela
O coração que te é chegado, o mais afim

A decantar meias-verdades que se espera
Nublem as partes que pareçam carmesim
Aos lábios loucos que te são os desta era
Se te oculta a peça ausente, e faça assim

É que na dor de não sentir-te, ele pondera
E não se importa perca a si antes do fim
E nessa mansa paciência é que te espera

Mesmo o nada, inda o não, ou mesmo: sim
É que te priva a face, o mundo e esta fera
A tola voz que inda te faz pensar em mim

Francisco de Sousa Vieira Filho

ARTE: http://wlop.deviantart.com-art-Daybreak-143798648.jpg 
[Daybreak_by_wlop]

sábado, 3 de abril de 2010

UM DEGRAU DE...



UM DEGRAU DE...

(...) Porque, por vezes,
Não há explicação,
Só sensação;
Meio que sem senso
E bem menos de ação...
Permita-se,
Permita-se, sempre!
Suas ações
Sejam ações
E não reações.
Se alguém te magoou
Pra que tanto se afetar,
Se sempre vão?!...
E tão [pro fundo a mente]!
Permita-se, então:
Viva, sinta, sorria, 
Chore, sofra, corra...
Que faz parte do viver
– do viver pleno –
O ofertar-se aos dois lados:
Seja pela dor ou pelo amor,
Mas seja sempre via cor
E com cores vivas
Que preto e branco não dá!

Francisco de Sousa Vieira Filho

ARTE: www.annaschwarzer.com/wp/bilder/moods/moods5.jpg

quinta-feira, 1 de abril de 2010

SÓ...



SÓ...

Se de um lobo só lhe dou
Solidão que seca a alma
Sem pensar que aqui estou
Só lhe dão o que quiserem
As palavras que da palma
Solidão é o que te inferem
E aqui sem a menor calma
Só lidar com o que te ferem
Que de ti não necessito
Nesse cito é que persigo
O que te nesse sito sigo
É que só, melhor Eu Sou
Solitário estar comigo?!
Se contigo, eu só estou...
Solitário é que me vou!

Francisco de Sousa Vieira Filho

ARTE: image.obsessionart.com/images/products/IgorVasiliadis_004_XL.jpg