The Lair of Seth-Hades: 04/14/08
Arte: Meats Meier - http://beinart.org/artists/meats-meier/gallery/meats-meier-2.jpg

Presente do amigo Zorbba Baependi Igreja - artista plástico, poeta e um dos idealizadores da Revista Trimera de Letras e do Projeto Academia Onírica [poesia tarja preta].

LIRA ANTIGA BARDO TRISTE & LIRA NOVA BARDO TARDO

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segunda-feira, 14 de abril de 2008

FOLHA EM BRANCO OU COM ALGO ESCRITO NELA?!

FOLHA EM BRANCO OU COM ALGO ESCRITO NELA?!

Não se trata de uma análise técnica ou rigorosa, apenas um elencar aleatório de alguns fatos corriqueiros e um exercício imaginativo para que possamos algo pensar acerca da questão. Portanto, não se espere aqui ler algo que nos reporte diretamente a um Piaget ou a um Chomsky.
* * *
Não recordo se se tratava de notícia plausível ou apenas de um boato, mas li, há algum tempo atrás, que o ator Anthony Hopkins, após considerável tempo interpretando o Dr. Hannibal Lecter, teve de fazer um tratamento com um psicólogo (ou psiquiatra, não lembro) para se desvencilhar da personagem – um psicopata com inteligência acima da média, ele mesmo um psiquiatra forense, com forte pendor artístico e hábitos canibalescos. Acho que todos conhecem os filmes em que ele protagoniza: “Silêncio dos Inocentes”, “Dragão Vermelho” e “Hannibal”. Pois bem, diz-se que ele teria feito isto a pedido de sua mulher, que, eventualmente, teria notado alguns olhares “enviesados” do ator dirigidos a si, como se a personagem estivesse aflorando e predominando sobre o próprio ator.
De outra feita, foi o ator Patrick Swayze, que, após o filme “Para Wong Foo, obrigada por tudo, Julie Newmar”, em que interpretava um homossexual, sentiu necessidade de fazer esportes radicais (bungee jump, rapel, escalada, etc.), pois dizia ter imergido demais na personagem, um transformista, e estaria trazendo hábitos e trejeitos da ficção para sua vida pessoal. Em entrevista ao Jô, disse saber andar de salto melhor que qualquer mulher e desafiava a todas.
Certa vez, no antigo bairro em que eu morava, havia um casal com apenas um filho de dois anos, dois anos e meio, algo assim. Não era lá um bairro violento. Mas os pais do garoto sempre diziam à empregada que não podia atender no portão pessoas que não fossem conhecidas da família. Diziam que não se devia dar esmolas, por receio da violência, etc. A criança mal balbuciava as primeiras palavras, mas quase sempre estava por perto quando os pais diziam isso, porque a empregada era também sua babá. Eu mesmo já havia presenciado eles dizerem tais coisas perto da criança. Pois bem, a despeito mesmo dessa "influência" contrária dos pais, sempre que havia um pedinte à porta, o garoto se dirigia à despensa e trazia um saco de açúcar, de flocos de milho, ou algo assim, e ofertava a quem pedia. É um caso isolado, eu sei, e também não serve para – da situação – querer estipular uma regra. Mas já observei também – e creio que muitos também tenham participado de experiência similares – crianças serem naturalmente egoístas com seus brinquedos, quanto a ter que dividi-los com irmãos ou amigos, e outras já sendo mais desprendidas. E isto em se tratando de crianças que sequer sabiam falar ou que – segundo pensamos – não teriam meios de absorver influência racional quanto ao que entendamos por altruísmo ou egoísmo. Genética?! – sabe-se lá...
Nas aulas de medicina legal e criminologia, analisando um sem-número de patologias psíquicas e psicológicas, notava, em conversas com os colegas de turma, que não havia um só dentre nós que não se identificava, em maior ou menor monta, com os casos analisados, qual observássemos termos algo, uma mínima semente que seja, de todos aqueles comportamentos patológicos.
Pois bem, neste sentido, pergunto: podemos dizer que somos uma folha em branco em que tudo se insere; ou poderia ser mais producente e adequado dizermos termos em nós a potência para todas os pendores, sejam eles bons ou maus?! Ou ainda uma proposição que coadune as duas coisas: folha com algo escrito com espaços em branco?!
Acho que, por vezes, tendemos a nos apaixonar por nossas concepções, idéias e teorias e a tratá-las como bandeira de fé inarredável, muito disto em decorrência de uma apreensão e uma leitura equivocada de Descartes, ainda que sub-reptícia, já que podemos absorver muito de seu pensamento antes – ou a despeito mesmo – de tê-lo lido, pesando fortemente o reflexo da imposição educacional de um modo de pensar mecanicista que diz ter raízes nele. Seria como se puséssemos uma lupa num fator, por vezes nem o principal, mas num que se coadune mais com o que pensamos, e desprezássemos os demais. Apreenderíamos o simples, e esqueceríamos o complexo. Mas e se a Verdade descortinar que todas as respostas estão corretas?! Aí – com certeza – iríamos nos debruçar em saber qual proporção de cada uma teria nesta conta.
Ora, nada parece ser simplório como queremos crer. Ainda temos a "mania" herdada de uma má-interpretação sub-reptícia de Descartes de divisar as partes, o simples, e não o complexo. Observamos com lente de aumento uma das causas e julgamos seja ela a única. O que quero dizer é que – mais provável – exista um sem-número de fatores e não um só, como queremos mais facilmente digerir, porque mais simples.
Se for como na metáfora da folha em branco, penso, seríamos como uma folha com algo escrito mas com muitos espaços em branco para serem preenchidos a posteriori. Se formos como o brinquedo lego, livres para encaixarmos novas peças ou as retirarmos, como uma amiga certa vez me colocou, o núcleo – acredito – terá algumas peças inamovíveis.
Apenas para exemplificar: de que experiência exterior retiramos a idéia de ponto ou a de infinito?! E não me venham dizer que de idéias pouco plausíveis a imaginação humana está cheia. O pontual e o infinito não encontram reflexos na maneira de ver empirista, tampouco se podendo dizer tratar-se de idéias fictícias (produtos da imaginação), nem de idéias adventícias (resultado da apreensão do meio), senão de idéias inatas (proposições embrionárias que traríamos conosco, não sendo resultado do aprendizado ou da experiência). Vejamos, a matemática mesmo – para usar o exemplo mais evidente – constantemente nos assombra com proposições e idéias que não advém da experiência sensível, como trouxéssemos no íntimo algo mais, algo além.
Penso, fôssemos qual folhas, nem tudo nela seria uma pauta branca ansiando por seu escritor.
FRANCISCO DE SOUSA VIEIRA FILHO [1]
Também disponível em:
(Papel em branco - I)
(Papel em branco - II)


[1] Francisco de Sousa Vieira Filho é advogado em Teresina-PI, militando principalmente na área trabalhista, professor de Filosofia Jurídica e Criminologia (FAESF – Floriano-PI), especialista em Direito Constitucional e mestrando em Direito pela Universidade Autônoma de Lisboa – UAL.