The Lair of Seth-Hades: 04/14/10
Arte: Meats Meier - http://beinart.org/artists/meats-meier/gallery/meats-meier-2.jpg

Presente do amigo Zorbba Baependi Igreja - artista plástico, poeta e um dos idealizadores da Revista Trimera de Letras e do Projeto Academia Onírica [poesia tarja preta].

LIRA ANTIGA BARDO TRISTE & LIRA NOVA BARDO TARDO

Galera, estou pondo uma conta PagSeguro à disposição, para quem [assumindo o risco por sua própria alma] tenha interesse em adquirir um de meus livros [Lira Antiga Bardo Triste ou Lira Nova Bardo Tardo]. O custo de cada exemplar é de R$ 10,00 + R$ 5,00 de frete. Valeu! :D

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quarta-feira, 14 de abril de 2010

DE TINTA E CUNHA





DE TINTA E CUNHA

Nem tudo precisa de um porquê. Nosso modo Ocidental [de pensar, de agir, de viver] quer sempre buscar por um – um porquê, uma razão, uma ordem, uma lógica. Queremos uma seta, uma mira e um alvo. Queremos um móvel e um motor. Queremos um destino [e veja o desatino], não apenas isso, não apenas fim, mas começo e meio também.  Queremos o caminho fácil, traçado no mapa da ilusão, e que haja tesouros ao fim da jornada sem-fim. Queremos a certeza num universo de incertezas. Mas, sim, neste caso específico, há bem um porquê – e com um quero dizer sejam vários [desvarios, melhor se diria]. A resposta fica a depender do momento, do texto, do estilo, do que mexe, do que move [e que nos move também]. E daí o porquê de dizer já não diria apenas um, mas alguns [porquês]. Pois bem: ora escrevo por catarse, pra purgar e expulsar. Externar seria muito comedido pra poder expressar a pungência da idéia. Ideal mesmo seria: “botar pra fora”. Escrever aí é terapia. A intenção é a de, quem sabe, olhando no espelho do mundo o que outrora dentro esteve [e, por vez, ainda está], possa melhor analisar, divisando os meandros do que se extraiu. Ainda que, por vezes, o que se extraia seja horrendo, por vezes, belo, por vezes, cause choque e espanto, por vezes, seja apenas vômito a ser rejeito, mas, por vezes, é ainda pedra bruta a lapidar na alma. E, por meio de tal análise, seja lá o que vier, sonho então possa um tal procedimento viabilizar a cura. Ora escrevo só pra mim, por puro prazer, por gozo e pela arte  – pelo puro e lúdico gosto de apenas brincar com as palavras [por vezes com os sons], tal qual um jogo, um duelo que se trava em meio ao abismo que há entre o símbolo e a idéia. Ora escrevo pros outros, pela paga de um simples e bobo elogio, e ainda pra cutucar, pra mexer, pra 'causar', pra chamar, pra gritar e até pra acordar. Ora escrevo por exigência – 'ossos do ofício' – pra convencer, pra defender, pra turvar, pra mentir e enganar [embora reconheça a arte engane mais – e bela seja ao menos]. Ora escrevo porque sinto faz parte do que sou [e cause estranheza talvez o fato de que alimento é algo de que se nutre, algo que adentra, algo de que se constitui e passa a fazer parte] mas é dela [da escrita] que por vezes me alimento [embora de mim é que ela advenha – Advém? - Torço não seja excremento]. Escrever é então uma necessidade – tal qual a de respirar. E nem sempre dá pra parar a despeito dos imperativos do dia-a-dia a berrar sua maior urgência, pois a urgência maior é viver a alma em seus longos haustos. Escrever aí é desnudar-se – e se é pra fazê-lo, que seja sem pudores [inda que o que a nudez revele nem sempre seja belo ou digno de apreciação]. Ora escrevo porque então é a letra que impera e a íntima voz que comanda. E como se me ditassem as palavras que me vêm da mente, assim elas são. E tão belas e fortes em ímpeto de idéia que mal as mãos se prestam a tão rápido transcrever os signos, as rimas ou as metáforas sem que a mente a tudo perca. Ora escrevo só... E ora escrevo, pois palavras são só signos, nada além – e mais importam as idéias a que elas, palidamente, tentam se reportar e representar, ocultando-as sob o véu e a máscara. Escritos, sejam lá quais forem, falam quase sempre do que não podemos transmitir a outrem com nossos signos primitivos. E ousar escrever é reconhecer, sem frustração, nossa incapacidade de comunicarmos certas idéias e sentimentos – e, sobretudo, perceber haja beleza nisto. É por isto que ora só escrevo e sem mais: sem razões, sem instâncias que lhe confiram mote, ordem ou direção – motor, móvel ou pulsão. E escrevo porque há uma mágica e as palavras são como runas que nos transportam para outros mundos e nos conferem dons que nem imaginávamos possuíamos e nos aproximam dos deuses. Ora só escrevo... e  chego a bendizer, quando não a amaldiçoar, não o dia em que os Fenícios fizeram traçar mágicos signos em forma de cunha em pequenas tabuinhas de barro, do mesmo barro de que fomos feitos [sendo então co-criadores de uma criação sem-fim, o Criador se dando a conhecer pelas criaturas, como a árvore se dá a conhecer pelos frutos], mas o dia, aquele perdido dia, oculto na noite dos tempos, em que um bando de primatas ousou misturar os sumos de flores e frutos pra registrar vida e o que quer que seja – em cores vivas – nas paredes de suas cavernas... “Escrevo porque o instante existe...”  e desejo imortalizá-lo, e até mesmo o que nem exista ‘ainda’, e a quem interessar possa...

Francisco de Sousa Vieira Filho

ARTE: http://fc05.deviantart.com/fs24/f/2008/006/8/c/Truth_by_damnengine.jpg        
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http--8.media.tumblr.com-ly47ZbUwGja7uwn9wVDsdQeuo1_400