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quarta-feira, 13 de outubro de 2010
MUDO
MUDO
No quarto-mundo, mudo, muda tudo
Silêncio que esquarteja, eu não me iludo,
Cioso a bem querer que a muda nasça
Mudança que não seja só fumaça
Que vingue, planto o plano e esta ânsia
Varrer-me muito mais que a ignorância
Que eu possa libertar-me, ser prisão,
Aquilo que quis feito ao coração
Quartel, broquel, cinzel me seja fel
Grilhão a.quarto.é.lado que foi céu
Tão logo eu me perca na emboscada
A carne me é posta em cantos cada
Que exposta ela me fica na rubrica,
Do que me quis grafar, e.na.morada,
Comer-me, de bocado, em só garfada
Na dor e no clangor de guerra rica
Morder pitacos d’alma é que se quis
Fazer bem mais que outros, foi que fiz
E ousei beber da dor ignorada
Saber que possa ser da alma amada
Ciente, mais que sente, a se perder
Quisera a só do amor eu pertencer
Mas tempo, sei me falta, e já é.terna
A mente é.de.ficar-me esta caverna
Que a.talho eu, pedaço inda menor
E corto carne, sentido e sentimento
A fluidez deste silêncio me é pior
Se não me tira d’alma um só tormento
É que me quer turvar visão refeita
Espelho, olhar esguelho que me espreita,
Mal possa libertar o que mais queira
Sentir que entender só seja à beira
A desaguar, que o silêncio não desfaz
E nem a dor de em.tender que é fugaz
A fluidez que, já sem sopro, eterna fica
E mata a sede mesmo que me seja à bica
E se tal dor, que seja amor, se faça filha
Por mais pequena, de supor, que seja ilha,
Maior a pena é de saber que a de sofrer
Pois que fizera o não-sentir para não-ser
Ah, poesia, caminho em que se trilha,
Em que mais vasto mundo se palmilha
Um tal querer, que tal sentir e não falar?!
Mais vale senso e direção se for a.mar
Francisco de Sousa Vieira Filho
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