The Lair of Seth-Hades: janeiro 2011
Arte: Meats Meier - http://beinart.org/artists/meats-meier/gallery/meats-meier-2.jpg

Presente do amigo Zorbba Baependi Igreja - artista plástico, poeta e um dos idealizadores da Revista Trimera de Letras e do Projeto Academia Onírica [poesia tarja preta].

LIRA ANTIGA BARDO TRISTE & LIRA NOVA BARDO TARDO

Galera, estou pondo uma conta PagSeguro à disposição, para quem [assumindo o risco por sua própria alma] tenha interesse em adquirir um de meus livros [Lira Antiga Bardo Triste ou Lira Nova Bardo Tardo]. O custo de cada exemplar é de R$ 10,00 + R$ 5,00 de frete. Valeu! :D

P.S.: a PagSeguro não fornece um sistema de cadastro de vários produtos, de modo que, quem efetue a compra, deve me enviar um e-mail [iarcovich@hotmail.com], ou mesmo me deixar 'comment' aqui mesmo num dos 'posts', dizendo qual exemplar deseja receber. Por hora, a forma de pagamento disponível é apenas a de boleto bancário. Amanhã já liberam pra cartão. ;)

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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A MARÉ [BAIXA]


A MARÉ [BAIXA]

Amor se.quer regado
E volta a ser semente
Acaso desprezado
E, por mais que tente,
– Bem pode até morrer –
Difícil é de dizer
Se torna, ou se lhe vai
Qualquer que seja o ai
Maior ou diminuto
Se fica, ou se lhe resta
O véu que pela fresta
Lhe é mortalha, o luto.
Pequeno na passagem,
Inda que a menor,
É quase uma visagem,
Sabe-o já de cor
Caminho que de volta,
Regaço, seu descanso,
A prescindir de escolta
Quer aninhar-se, manso,
Tal dor que segue cego,
Em ondas espumantes,
Fulgor que já é só ego
Se perde nas vazantes,
[De há muito, se apagou]
Deixai, pois, lhe abracem
Qual não fizeram dantes
E é bom que logo passem
Tais ondas que só antes
Não lhe viravam o rosto
Que desgosto, face gosto
Na viração de amar é
E amarelo então se rompe
O sol, no horizonte, irrompe.

Francisco de Sousa Vieira Filho

IMAGEM:  Francisco de Sousa Vieira Filho

domingo, 2 de janeiro de 2011

LIRA NOVA BARDO TARDO - prefácio

Antes de mais nada um feliz 2011 a todos. Andei meio ausente, em boa parte devido a questões profissionais [ossos do ofício], em parte devido ao preparo deste que é meu segundo livro. Algo do que há nele vocês já conhecem aqui do blog. A capa é uma foto minha, foto de celular por sinal. Quando a oportunidade surge, quase nunca temos uma câmera em mãos [risos]. Aqui vai uma provinha do prefácio que modifiquei e ampliei de um dos textos já postados cá. É isso, galera, estou de volta! Forte abraço a todos!!!

P.S.: estou pondo uma conta PagSeguro à disposição para quem tenha interesse em adquirir um dos livros [Lira Antiga Bardo Triste ou Lira Nova Bardo Tardo]. O custo de cada exemplar é de R$ 10,00 + R$ 5,00 de frete [Como sou novo nisso, está tudo ainda em fase de testes. A partir de amanhã, ponho ativo] :D

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DE TINTA E CUNHA
À guisa de explicações quanto ao título e ao porquê de se escrever...

Antes mesmo de fazer menção qualquer quanto ao título da presente obra, mister se faz remetermo-nos àquela outra que lhe antecedeu e que com esta guarda sensível conexão. A simples menção do título de meu primeiro livro – "Lira Antiga Bardo Triste"– já dirá o bastante.
Por razões várias, preferi usar o termo bardo ao nosso, mais conhecido, trovador. Há quem diga a poesia seja a forma mais primitiva de música. E os bardos nada mais eram que poetas-andarilhos, a vagar de cidade em cidade, levando poesia, arte e música, cantando as aventuras de heróis e guerreiros, divulgando o folclore e os mitos e as estórias de deuses, dragões, duendes, elfos, fadas...
O título casou bem porque, ali, não me preocupei em fazer uma seleção dos melhores poemas. Poesia – no fim das contas – é desnudar-se; então, se é pra fazê-lo, que seja sem pudores. Pus de tudo: coisas novas e antigas [embora prevaleçam obviamente estas últimas em relação ao todo]. E assim o fiz, sem me preocupar tanto em pôr uma ordem, seja ela cronológica ou de meu gosto pessoal. Creio mesmo que poemas não têm data, são eternos e habitam num eterno presente. Com esse propósito, fiz uma miscelânea de tudo o que tinha escrito até então: desde poesias de nível até aquelas sérias candidatas à lixeira. Deixei tudo ali para que o leitor fizesse o julgamento. É que também, no fim das contas, nem sempre o que a nudez revela é algo belo ou digno de apreciação.
Como dizia, mesclei poemas antigos, de métrica rígida e fechada [sonetos, via de regra] e poemas mais soltos e contemporâneos, mas – ainda assim – ali prevaleceram os primeiros, e disso decorreu então a parte inicial do título [Lira Antiga]. "Bardo Triste", por sua vez, deveu-se à temática mais rotineira em torno deles. É que os poemas do livro anterior [e, em alguma medida, os deste também] gravitam em torno de temas como dor e sofrimento, sentimentos enfim, embora encarados quase sempre com forte veia filosófica. Ousar poetizar não seria algo muito além de um reconhecer, sem frustração, dessa nossa incapacidade de comunicarmos certas idéias e sentimentos; e, sobretudo, perceber haja beleza nisto.
Diferente do primeiro livro, neste cá, os poemas guardam então, quase que integralmente, a ordem de sua feitura. E se ali havia apego à métrica [à forma], aqui (ao menos em alguma medida) o apego é ao quadrado [à estrutura], a despeito de uma maior incursão nos versos livres, seja em volume, seja por gosto e predileção. Entre um e outro escrito, houve uma sensível transição: de início, de um exercício para o aprimoramento quanto à forma, passando por um maior apego a ela [por predileção], e chegando, por fim, [pelo menos quanto aos sonetos] a uma maior apreciação ao “quadrado”, a despeito mesmo de que isto eventualmente maculasse a métrica.
No primeiro livro constam poemas lentamente cunhados entre os anos de 1998 e 2009, justapostos acriticamente e sem uma ordem preestabelecida. Neste, todos foram escritos [a despeito de profusão similar à do anterior] entre 2009 e 2010, o que explica a segunda parte do título [Bardo Tardo]. Uma marca, porém, une o Lira Antiga Bardo Triste e o Lira Nova Bardo Tardo: o fato de as poesias serem, num e noutro livro, algo cruas. Não que não haja lapidação ou debruçar detido em cada uma delas [e alguns amigos que acompanharam o progresso do livro, seu processo criativo, e que viram as várias versões de um mesmo poema diriam até demasiado o burilamento], mas, assim o fiz, por gosto pela poesia primitiva tal qual me veio [e nem tanto por pressa ou razão outra]. Procuro sempre me deter em certa medida – e isto se repete em ambas as obras [e provável em quase tudo o que escrevo], para que os poemas não percam seu sopro intuitivo inicial talvez. É qual se desejasse que o leitor mais aguçado pudesse perceber: “existe algum talento aqui, há esforço também e não falta sentimento, mas parece uma pequena fração de trabalho talvez careça, a poder tornar o poema mais sonoro, mais adequado na métrica, mais perfeito na forma, na estrutura, mais belo até...” Assim os deixei; assim eles são; propositalmente, ou não. Fiz o meu quase-melhor. E haverá, talvez, quem sabiamente diga: – sofre de poesia-presa, coitado, [ou bem-aventurado, sabe-se lá]; sua melhor-poesia inda há de vir. – Deixo-a pro sonho, pro vento ou pra quando oro sem que ninguém mais possa ouvir. Talvez seja isso mesmo, ou talvez eu só não saiba lidar com a ansiedade.
No geral, diria que o que mais caracteriza o presente livro é a maior liberdade [daí, então, o “Lira Nova” do título], sobretudo a de brincar com as palavras e com os sentidos delas, sendo esta apenas uma das muitas razões para se escrever: a simples, pura e lúdica diversão de brincar com as palavras e com os sons.
Mas nem tudo precisa de um porquê. Nosso modo Ocidental [de pensar, de agir, de viver] quer sempre buscar por um – um porquê, uma razão, uma ordem, uma lógica. Queremos uma seta, uma mira e um alvo. Queremos um móvel e um motor. Queremos um destino [e vejam o desatino], não apenas isso, não apenas fim, mas começo e meio também. Queremos o caminho fácil, traçado no mapa da ilusão, e que haja tesouros ao fim da jornada sem-fim. Queremos a certeza num universo de incertezas.
Sim, neste caso específico [da poesia], como igualmente na escrita em geral, há de haver bem um porquê – e com um quero dizer sejam vários [desvarios, melhor se diria]. A resposta fica a depender do momento, do texto, do estilo, do que mexe, do que move [e do que nos move também]. E daí o porquê de dizer já não mais diria apenas um, mas alguns [porquês].
Ora escrevo por catarse, pra purgar e expulsar. Externar seria muito comedido pra poder expressar a pungência da idéia. Ideal mesmo seria: “botar pra fora”. Escrever aí é terapia. A intenção é a de, quem sabe, olhando no espelho do mundo o que outrora dentro esteve [e que, por vez, ainda está], possa então melhor analisar, divisando os meandros do que se extraiu. Ainda que, por vezes, o que se extraia seja horrendo; por vezes, belo; por vezes, cause choque e espanto; por vezes, seja apenas vômito a ser rejeito; mas que, por vezes, é ainda pedra bruta a lapidar na alma. E, por meio de tal análise, seja lá o que vier, sonho possa então um tal procedimento viabilizar a cura. Ora escrevo só pra mim, por puro prazer, por gozo e pela arte – pelo puro e lúdico gosto de apenas brincar com as palavras [e até mesmo com os sons], tal qual num jogo, num duelo que se trava em meio ao abismo que há entre o símbolo e a idéia. Ora escrevo pros outros, pela paga de um simples e bobo elogio, e ainda pra cutucar, pra mexer, pra 'causar', pra chamar a atenção, pra gritar e até pra acordar [ainda que a mim mesmo]. Ora escrevo por exigência – 'ossos do ofício' – pra convencer, pra defender, pra proteger e pra turvar, pra nublar e ocultar, pra mentir e enganar [embora reconheça a arte engane mais – e bela seja ao menos]. Ora escrevo porque sinto faz parte do que sou [e cause estranheza talvez o fato de que alimento seja algo de que se nutre, algo que adentra, algo de que se constitui e passa a fazer parte] mas é dela [da escrita] que por vezes me alimento [embora de mim é que ela advenha – Advém? – Torço não seja excremento]. Escrever é então uma necessidade – tal qual a de respirar. E nem sempre dá pra parar a despeito dos imperativos do dia-a-dia a berrarem sua maior urgência, pois a urgência maior é viver a alma em seus longos haustos. E, repito, escrever aí é desnudar-se – e se é pra fazê-lo, que seja sem pudores [inda que o que a nudez revele nem sempre seja belo ou digno de apreciação]. Ora escrevo porque quero me ‘desmecanizar’... poesia corta fundo na alma e faz fluir o que há de mais genuíno, menos maquinal, desnuda a ponto de rasgar não apenas vestes, mas a própria pele, músculos e nervos, arranhando ossos e despindo os véus da alma, nos deixando nus para nós mesmos, refletindo no espelho nossas fraquezas, ânsias e medos, revelando nossa pequenez, mas também nossa grandiosidade... cabe dizer, repetição, treino e prática [bem-vindos e positivos sempre] nos fazem automatizarmos certas ações; tornamos tais ações intuitivas a ponto de não precisamos mais pensar para fazê-las; entramos numa espécie de transe e elas simplesmente acontecem, porque talvez o corpo já tenha decorado os caminhos que a mente [quem sabe seja a alma ou o coração] tantas vezes percorreu e lhe ditou... rotina não, rotina é outra coisa, rotina é ruim, rotina é mecânica, e rotina cansa... se [erro tina], pre.firo mar... todos os dias precisam ter aquilo de diferente pra sentirmos que o tempo passa... doutro modo, acordaríamos, certa feita, e descobriríamos que estamos velhos, que nada fizemos da vida e que a morte logo espreita. E é por isso que escrevo, porque quero fugir da rotina de mim e descobrir o meu estranhamento de todas as coisas, a contrastar com esse intuitivo senso de pertencimento a tudo – e quero descobrir o quanto minha alma é estrangeira para mim mesmo e quanto tenho de lar em toda parte. Ora escrevo porque então é a letra que impera e a voz íntima que comanda. E como se me ditassem as palavras que me vêm da mente, assim elas são. E tão belas e fortes em ímpeto de idéia que mal as mãos se prestam a tão rápido transcrever os signos, as rimas ou as metáforas sem que a mente a tudo perca. E ora escrevo só, pois ora escrever é oração [ora, ação da boa é daquelas que se faz em silêncio e em só.lidar]... E ora escrevo, pois palavras são somente símbolos e nada além – e mais importam as idéias a que elas palidamente tentam se reportar e representar, ocultando-as sob o véu e a máscara. Escritos, sejam lá quais forem, falam quase sempre do que não podemos transmitir a outrem com nossos signos primitivos. E, já o dissemos também, ousar escrever é reconhecer, sem frustração, nossa incapacidade de comunicarmos certas idéias e sentimentos – e, sobretudo, perceber haja beleza nisto. É por isto que ora só escrevo e sem mais: sem razões, sem instâncias que lhe confiram mote, ordem ou direção – motor, móvel ou pulsão. E escrevo porque há uma mágica e as palavras são como runas que nos transportam para outros mundos e nos conferem dons que nem imaginávamos possuíamos e nos aproximam dos deuses. Ora só escrevo... e chego a bendizer, quando não a amaldiçoar, não o dia em que os Fenícios fizeram traçar mágicos signos em forma de cunha em suas pequenas tabuinhas de barro, do mesmo barro de que fomos feitos [sendo então co-criadores de uma criação sem-fim, o Criador se dando a conhecer pelas criaturas, como a árvore se dá a conhecer pelos frutos], mas o dia, aquele perdido dia, oculto na noite dos tempos, em que um bando de primatas ousou misturar os sumos de flores e frutos pra registrar vida e o que quer que seja – em cores vivas – nas paredes de suas cavernas... “Escrevo porque o instante existe...”  e desejo imortalizá-lo, e até mesmo o que nem exista ‘ainda’, e a quem interessar possa...
Fica aqui, porém, um alerta derradeiro: é poeta quem se permite dotar de sensibilidade tal que divise a maldição e a maravilha que há em existir; e isto por vezes a tal ponto que, quando extravasa, precise exteriorizar de algum modo [pra que talvez não se veja engolfado pelo que lhe foi dado “ver”]. Assim, pode-se ser poeta e escrever, mas poesia é visão de mundo, é perspectiva – e vai além [muito além] da mera escrita – é poeta quem poeta vive!
E não é a poesia que precisa do mundo, o mundo é que precisa depois ía, justo porque ela imprecisa. É que pois ía diz.atando os nós, mas até os cegos cura... e é foice...

Teresina, madrugada serena de domingo, 13 de Junho de 2010 – 04:31h.

           Francisco de Sousa Vieira Filho

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Post-Sriptum: Diz a bíblia “nem só de pão vive o homem...” e eu leio com a avidez de quem busca alimento, de quem busca o pão de cada dia, com a acuidade de quem vai à caça. Bem, sei que por vezes comemos cada coisa! E há até quem se sinta desestimulado, porque quanto mais se lê, invariavelmente, mais se descobre que outros falaram, exatamente, aquilo que se gostaria de ter dito, ou como gostaria de ter dito. Uma prova talvez do liame invisível entre as almas. O certo é que eu não os compreendo bem, porque quanto mais leio, mais vejo quão infinitos horizontes há por serem escritos – e isso é sobremaneira reconfortante. As palavras estão lá, pairando no imponderável, e esperando serem pescadas, pescadas “por pescadores do rio d’alma”. E parece haver uma necessidade inarredável no espírito humano [uma?!], a de suprir o profundo vazio e a gigantesca incompletude que se sente. E é uma incompletude tal e um vazio tamanho que mesmo talvez a plena comunhão com todos os seus pares, provável, não saciasse tal necessidade. Seria preciso talvez uma comunhão cósmica com tudo o que exista e provável até mais. E é desse vazio que parece[!] surgir a [co-]criação de tudo o que perpassa pela mão humana. “E no princípio, havia trevas...” e o que surge vem para extirpar a treva, causar-lhe alguma chaga ao menos, ferir sua pele turva e, quem sabe, trazer alguma luz de algo novo, de algo que, se não supre o vazio, dá alento, preenche, é paliativo, um remédio provisório que ninguém oferta senão com o profundo desejo de modificar o mundo e a realidade que o rodeia, ignorando até – veladamente – não possa fazê-lo senão mudando a si mesmo, sua própria realidade interior... é por uma tal razão que me quedo aqui – sedento – à espreita destes ventos de mudança.

           Francisco de Sousa Vieira Filho