Francisco de Sousa Vieira Filho
segunda-feira, 28 de abril de 2008
DIÁLOGO (?!) INUSITADO ENTRE O NIILISTA E O PALHAÇO COM O EXCLUÍDO POR PLATÉIA...
DIÁLOGO (?!) INUSITADO ENTRE O NIILISTA E O PALHAÇO COM O EXCLUÍDO POR PLATÉIA...
— Não há comunicação! — professa o niilista em seu púlpito ante o vazio.
Alguém estende a mão sem ser visto...
"Como então insistes em professar tal coisa, se nem isto (a ausência de comunicação) se poderia comunicar?!", refuta o palhaço.
Um mendigo geme a seu lado e clama.
— Nada pode ser conhecido! — reitera o niilista, indiferente mesmo às intervenções do pobre palhaço louco e à mão estendida do mendigo.
— E como julgas então conhecer tal coisa, e com tanta profundidade, conhecendo, e tão bem, o conhecimento de que nada pode ser conhecido?! — retrucou o palhaço entre risos estridentes...
— A verdade não existe! — grita o niilista em seu desespero, como se seu grito pudesse abafar o riso insano do palhaço.
Ouve-se como que um lamento vindo do chão...
— Isto certamente é uma mentira — reitera a jocosa criatura — já que, para ti, verdade nem existe mesmo. (risos)
“É um mito! Tudo é plural!”
— Se tudo é plural, porque insistes tanto em defender o niilismo e de uma forma tão pontual?
— Tolo, nada tem fundamento em coisa alguma! Nada se pode sustentar! Desespera-te! - esbravejou o niilista, pela primeira vez externando atentar para as intervenções do palhaço.
O mendigo, homem de meia-idade, imundo e tristonho, cai num pranto inaudito...
“Se nada tem fundamento...”, disse o palhaço a mal conter-se em gargalhada efusiva, “porque somente o niilismo por ti defendido o teria?!...”
— Tudo é relativo! — prossegue o discursante...
— Mesmo isto já é uma afirmação absoluta! — contesta o irônico refutador...
E antes, porém, que a fúria o dominasse e o niilista agredisse ao interlocutor infame que lhe obstava o discurso, acalmando o coração e respirando fundo, num acesso de sabedoria sem-par, ele calmamente diz: “devemos respeitar a opinião do outro.”
Neste instante, o palhaço chorou - dando-se conta daquele que entre prantos a seu lado estava e antes sequer via -, e professou:
“Devemos respeitar o outro!”
— O outro... o outro sequer existe... existimos nós... — finalizou o niilista.
Foi então que aquelas três insólitas e estranhas figuras do cenário descortinado se aproximaram. E se abraçaram o palhaço, o niilista e o mendigo, qual irmãos.
O niilista e o palhaço se acercaram do mendigo, seu próximo, cujo estômago ardia de fome.
Foi que lhe deram-lhe o tão ansiado pão. E pondo-se ao trabalho em favor do próximo, esqueceram, por fim, rusgas, filigranas e discussões inúteis... passando, somente então, à ação!
Francisco de Sousa Vieira Filho
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