['sede oleiros de vosso próprio barro.']
domingo, 7 de março de 2010
METALINGÜAGEM
LIRA PERDIDA
Na página adiante, a fria alvura
É um mar de tão branca secura
Que por tal palavra me faltasse
Na letra ausente eu me afogasse
E tateio, adivinhando a tessitura
Se dela inda estivesse à procura
Qual se a mim mesmo buscasse
Num travo à língua, um impasse
É que falta a cor, se oculta a face
E o próprio verbo criador descura
Qual se do fiat lux se ausentasse
E clama a metalingüística lisura
Na folha maculada, em sua alvura
Que eu a mim mesmo edificasse
['sede oleiros de vosso próprio barro.']
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ATHENE NOCTUA*
Ah, poesia, linguagem caprichosa!
Do bom-ócio grego, o farto ventre
Dúbia e faceira, mansa e chorosa
Qual se nos achega quase sempre
Em sua dança geniosa não se curva
E se ao bel sabor o sentimento turva
Mal se presta a falar o que só pode
Cantar o coração em cifrado códice
Suas belas asas não deixa vergar
A quem só dela foge, se a pretende
Esforço vão, a vil noção conceituar
E em seus profundos olhos tende
Se co'a Filosofia alça vôo acúleo
A desbravar o horizonte cerúleo
Francisco de Sousa Vieira Filho
FONTE: VIEIRA FILHO, Francisco de Sousa. Lira Antiga Bardo Triste. Teresina - PI: Gráfica e Editoria O Dia, 2009. v. 500. p. 14.
* Athene Noctua era a coruja de Atenas, símbolo da Filosofia.
ARTE: www.williambennettgallery.com/artists/dali/pictures/large%20v2-DALI1162.jpg
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