Eu, vincada pele,
A ruminar lembranças,
A deglutir demoras,
Esperanças e anseios
– Seios todos
Nestas horas;
Pele, pergaminho
Percorrido um dia,
Marcada fica;
E se choro e rio,
Quer, sendo afago
Da memória
Que de novo
Homo res homine sacra. Noli foras ire, redi ad ti ipsum. In interiori homine habitat veritas. Nosce te ipsum - Gnothi seauton. Veritas lux est. In eo vivimur, movemur et sumus. Nisi credideritis, non intelligentis. In'lak ech.
À guisa de explicações quanto ao título do blog...
Seth era tido como o deus dos estrangeiros, no Egito Antigo. Paulatinamente, sob a óptica dos seguidores das divindades reinantes então, assim tomado como deus do mal... também fora alcunhado como o deus egípcio da violência e da desordem, da traição, do ciúme, da inveja, do deserto, da tempestade, da guerra, dos animais e, sobretudo, das serpentes. Seria a encarnação do espírito do mal e irmão de Osíris... traído por sua irmã-esposa Néftis com seu irmão Osíris, confabula sua vingança, almejando a coroa do irmão, e, por fim, consegue matá-lo; sendo mais tarde, porém, assassinado por seu sobrinho Hórus (filho de Osíris e Ísis, de quem se diz seja a reencarnação do próprio pai)... por isso, também tido como o maior defensor dos oprimidos e injustiçados... A história do longo conflito entre Seth e Hórus é vista por alguns como uma representação de uma grande batalha entre cultos no Egito, no desfecho da qual o culto vencedor teria transformado o deus do culto inimigo em deus do mal. Seth é, na verdade, a representação do supremo sacrifício em prol da justiça.
Hades, por sua vez, era, na Grécia Antiga, o deus do submundo e das riquezas dos mortos e sob a terra; guardião de todo o Hades, termo usado para designar tanto o deus como o reino onde exerce seu poder e mando. Seus domínios abrangiam todo o plano espiritual mitológico, por assim dizer, desde os Elíseos (paraíso) até o Tártaro (inferno); por vezes, também tido, sob o nosso olhar de hoje, como deus do mal, bem como seu reino erroneamente cognominado inferno (estranho, uma vez que abrangeria também o paraíso – Campos Elíseos)... Segundo a lenda, o poder de Hades, Zeus e Poseidon era equivalente. Mas Hades era um deus de poucas palavras e seu nome inspirava tanto medo que as pessoas procuravam não o pronunciar. Era descrito como austero e impiedoso, insensível a preces ou sacrifícios, intimidativo e distante. Invocava-se Hades geralmente por meio de eufemismos, como Clímeno (o Ilustre) ou Eubuleu (o que dá bons conselhos). Seu nome significa, em grego, o Invisível, e era geralmente representado com o elmo mágico que lhe dava essa habilidade, que ele ganhou dos ciclopes quando participou (ao lado de Zeus) da guerra contra os titãs (liderados por Cronos). No fim da luta contra os titãs, vencidos os adversários, Zeus, Poseidon e Hades partilharam entre si o universo, Zeus ficou com o céu e a terra, Poseidon ficou com os mares e Hades tornou-se o deus do submundo e das riquezas. Era também conhecido como o Hospitaleiro, pois sempre havia lugar para mais uma alma no seu reino. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, Hades não é o deus da morte, mas sim do pós-morte.
Feitas estas considerações, saiba o viajante-amigo, este é um lugar de desgarrados, um lugar de acolhida, daqueles que são rechaçados pela simples pecha da diferença, quando normalidade – sabido é – constitui a mais treda ilusão... acomode-se, viajor cansado... liberte-se do pó e da vertigem da jornada... e se permita, então, palmilhar cada canto e perder-se nos profundos meandros e sinuosidades do covil... conforto não há em suas paredes, com sombras e profundezas sutis, mas há tesouros em seus caminhos e sincera é a sua acolhida... pão humilde de uma arte menor e água sincera da boa amizade te são ofertados a mancheias... As portas da covil de Seth-Hades estão abertas...
14 comentários:
Francisco, meu querido amigo, grande poeta
Que poema extraordinário, este seu!
Emocionei-me sobremaneira, nas várias leituras que fiz, porque tive de ler várias vezes e outras tantas terei ainda de ler.
Muito, muito lindo, você tratar o tempo assim, desta forma, que sequer sei comentar, simples que sou nestas questões poéticas.
O que sei é que você mexeu demais comigo, de uma forma boa, positiva, proporcinando-me um momento de indescritível deleite estético...
Grata por isso!
Abraço apertado da
Zélia
Ow, brigadão, Zélia! E deixe de bobagem que inda hoje me passeia pela mente uma cigana de um certo poema seu... [é poeta quem poeta vive, e você vive seu fazer poético como poucos... a admiração é recíproca e me igual medida, acredite].
Engraçado que este poema me saiu numa veia diversa da de costume, fugindo das rimas e da métrica, mas não só, mudança de estilo também. Mais que fracionar palavras e uni-las, dando sentidos outros, quis passar a mensagem do que se passa aqui [dentro] precisa, porque é preciso fazer... poesia é decodificar, leitura da alma, do mundo e do que for... e é foice! :D
Forte abraço, Zélia! ;)
P.S.: não só matou a charada do cerne da temática como me redescubro em tuas leituras e releituras... bjaum! :D
Muito, muito bom, Francisco. Como Zélia, tbém li mais de uma vez.
Poema-pele aponta o pretérito futuro vincado.
Excelente, Francisco.
O melhor poema que li seu.
Liceu de estudos poéticos.
Para bens duráveis, matéria forte.
Abraço grande.
Obrigado, Maria Paula Alvim. As leituras, releituras e impressões dos amigos só me alegram o coração.
Forte abraço! ;)
Valeu, Paulo Jorge Dumaresc! Poema é sentir e onde há mais 'feeling' que intelecção [a despeito do labor do pensar para fazê-lo], ele se há mais livre aí...
Forte abraço! :)
Um ligar de imagens e sentimentos que nos prendem e nos fazem pensar na vida e no seu devir.
Oi, mfc! Foste preciso... o devir temporal é exato a idéia, sob uma perspectiva individual ['da sein' - ser-aí, ser-no-mundo], pessoal, não o homem gênero, mas o homem-eu, e talvez por isso - só aí - encontremos aquelas angústias que causam comiseração no íntimo de todos, porque, parece ser o caso, 'a parte reproduz o todo'...
Forte abraço, meu amigo! :)
Francisco, magnífico poema!
Tive que ler e reler, mas é impressionante como vc lida bem com as palavras e tira delas o efeito desejado... genial.
Parabéns, Poeta!
Beijos
francisco,
vim aqi até sua pagina- para coanhedcer seu trabalho-
e me surpreendi com sua verve, sua temática, seuj longo e elaborado poema, de tantas leituras e de tantas conotaçaões...
grande abrfaço
daanilo.
que cadência! sensacional!
a construção do verso deu a ele uma imensa capacidade dramática e as palavras foram se encontrando em imagens muito bem pensadas.
ficou excelente!
belo trabalho.
um beijo.
Obrigado, Patrícia Lara! O ler já lisonjeia, reler então, inda mais...
Beijos mil!!! ;)
Forte abraço, Danilo! Seja bem-vindo neste nosso cantinho aqui... ;)
Betina, minha amiga, vindo de quem sabe mais só me deixa ruborizado... :D enorme abraço!
P.S.: ultimanente a inspiração vem quando não se tem um papel ou caneta em mãos, tow numas de anotar tudo nas notas e páginas de recado do celular [este cá tb. foi o caso]
Forte abraço!
P.S.2: sua presença e a da Zélia por cá sempre me são bons termômetros... beijo grande! ;)
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