The Lair of Seth-Hades: Missão da Vida e Missão na vida...
Arte: Meats Meier - http://beinart.org/artists/meats-meier/gallery/meats-meier-2.jpg

Presente do amigo Zorbba Baependi Igreja - artista plástico, poeta e um dos idealizadores da Revista Trimera de Letras e do Projeto Academia Onírica [poesia tarja preta].

LIRA ANTIGA BARDO TRISTE & LIRA NOVA BARDO TARDO

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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Missão da Vida e Missão na vida...



MISSÃO DA VIDA E MISSÃO NA VIDA...
(pensamentos, colagens, auto-ajuda e outras bobagens...)

Quando a gente pensa em missão, tomamos a questão ora em nível micro, ora em nível macro. Por vezes vemos e pensamos a missão maior, a missão da vida, que inclui (obviamente) nos tornarmos pessoas melhores, e isto, certamente, passa por fazermos a vida dos outros melhores.
Evoluir, sob qualquer perspectiva, traz consigo a idéia de superar obstáculos e problemas... e, se observarmos com precisão, nem importa bem a natureza dos problemas. Neste contexto, existe algo que sempre ajuda: olharmos e focarmos nossa esfera de atuação... olhemos a questão da seguinte forma: não posso mudar o outro, não posso fazê-lo agir como eu gostaria que agisse, nem posso me chatear [de todo] pelo fato de o outro pensar diferente... devemos respeitar as diferenças, por mais que nos choquem... e isso é evoluir... mas o ponto é sempre esse: fazer a nossa parte, mudarmos a nós mesmos... não se soluciona o problema maior (a missão da vida), sem se solucionar os problemas menores (as missões na vida)... hoje, penso, pouca valia tem focarmos a missão maior e nos esquecermos que somos humanos, que temos uma quantidade enorme de pequenos problemas (que nos são urgentes no hoje, no agora), via de regra, resultantes de situações conflituosas: família, trabalho, escola, faculdade, amigos, etc. E os ditos conflitos se dão quase sempre por comportamentos cíclicos e repetitivos de parte a parte. Não posso quebrar o ciclo, mudando o agir do outro, mas posso mudar o meu.
Se diante de dada situação eu sempre faço "assim", irei fazer "assado" (umavezinha que seja) só pra sentir a reação do outro, pra ver se quebro o ciclo - e cumpro a pequena missão, que - penso - é o DNA da missão grande, da missão maior. Vejamos: eu conheço bem a reação do outro sempre que faço assim, mas e se eu fizer assado?! Meu agir diferente há de fazê-lo reagir diferente também. É uma saída, vale tentar... nenhum dos grandes homens e mulheres (a saber: Gandhi, Madre Teresa, Krisna, Buda, Jesus, etc.) mudou o mundo senão mudando a si mesmos. O foco deles não foi o outro, ou o mundo... tentaram mudar a si mesmos; e, por isso, mudaram todas as coisas... NÓS MESMOS, eis aí o único lugar que pode ser mudado. O agir do outro não se pode mudar. Os outros sempre vão fazer coisas que invariavelmente vão nos decepcionar. Vejamos se não é um pouco infantil de nossa parte: esperamos algo das pessoas, se elas não agem como esperamos, a gente logo se magoa... observemos bem: somos nós que nos magoamos! O outro é a fronteira do desconhecido, do imprevisível... tudo pode vir do outro... a probabilidade de que venha algo que nos magoe é imensa... NÃO ESPEREMOS... NADA ESPEREMOS... vivamos mais light... sejamos mais leves... carreguemos menos peso... senão, tudo na vida será como se carregássemos uma mala imensa... sejamos LEVES... façamos nós o que julgamos seja certo... não esperemos pelo agir ou o ‘não-agir’ do outro... façamos nossa parte, porque somos, exato, as únicas pessoas de quem podemos cobrar.
Ora, esperarmos santos e nos decepcionarmos como se demônios fossem, sobretudo ante a realidade gritante de um mundo de humanos, de gente “de carne e osso”, só demonstra nossa infantilidade. Esperar só coisas boas das pessoas revela tanta infantilidade como a de quem só espera coisas ruins – e isto se intensifica, sobretudo, quando esperamos algo de quem gostamos e amamos. E esquecemos justamente que gostar é permitir ao outro ser quem ele é. Mas esperamos sempre demais, justamente porque é alguém de quem gostamos, a quem admiramos ou  em quem confiamos. Ignoramos que, estando mais próximos, estes são justamente os que mais nos irão magoar, justo porque mais próximos.
Somos como ‘porcos-espinho’ - os vícios são os agudos espinhos, ferem quando estamos muito perto. E o fato de você gostar, admirar, confiar, querer bem, não quer dizer que a pessoa por quem sente isso deva agir, pensar ou falar segundo os padrões que VOCÊ estabeleceu de normal/certo. Ame a diferença! É isso que nos faz belos: a pluralidade... Óbvio que alguns enxergam a essência, o que nos é comum, mas estes são os grandes, que nos vieram como faróis e como guias... os demais, os homo-medius, como nós, têm de viver aqui, na vida real... e lidar com as diferenças e respeitá-las sobretudo... mesmo que eu saiba (ou ache) que dada coisa é certa e que o outro erra, se eu o amo, devo alertá-lo; mas não condená-lo por pensar diferente. Condeno as idéias diferentes, não as pessoas que defendem tais idéias. Penso, deva ser esse o modo de agir. Eu me indigno com idéias retrógradas, ingênuas, errôneas, viciadas, etc. E vou lutar com todas as forças para que aqueles que possuam tais idéias mudem, mas não vou condená-los se quiserem persistir no erro. É o livre-arbítrio deles... fazer o quê?!
Aí, você diz: “ah, mas como vou evitar sair machucado?” – Não vai! - mas pode ao menos evitar os machucados que vêm da sua própria revolta com eles... é como quem se espeta numa rosa e fica revoltado porque antes só via a beleza e a maciez das pétalas... e agora só vê a feiura e a dor dos espinhos. Agir assim é como quem, pela revolta em face da existência dos espinhos, os abraça e mais se fere. É como alguém que se pune pela existência da dor e da feiura... Como diria Kahlil Gibran, Deus nos deu a nuvem benfazeja que nos traz a chuva que acalenta e fertiliza a terra seca, mas com ela trouxe também o raio e o trovão. Ame o raio e o trovão como quem ama a chuva também. São faces da criação como quaisquer outras. Por meu turno, diria que o espinho que ladeia o caminho não existe senão para nos alertar que estamos saindo da trilha e não pra nos machucar.
Eu sei, já estou ‘viajando’ demais, vai dizer alguém. Muita gente por aí só vive. Não pensa sobre tais coisas e ora se revolta, ora se magoa, ora age num sentido ou noutro, sem nunca pensar sob tais perspectivas... "uma vida não pensada (não refletida) é uma vida que não vale a pena ser vivida", já diria Sócrates. Não me perguntem como fazer pra não sofrer. Seria pedir que eu dê respostas que não sei. Aliás, nem Jesus sabia... porque, sendo sábio como foi, também sofreu... assim com Sócrates... assim com Gandhi... sofrer faz parte... devemos amar o sofrimento naquilo que ele tem de bom. "O sofrimento é para o sábio aprendizado", nos alerta um Goethe. O sábio não vê no sofrimento só a dor, mas a lição que ele traz... por isso, ele também vê no sofrer algo bom... é a mesma relação entre o raio e a chuva a que nos reportou Kahlil. Agora, passar pelo sofrer e não aprender a lição que o sofrimento veio deixar - isto, sim, é pecado e um erro crasso. E isso é cíclico... sofrimento similar (invariavelmente) vai vir, até o dia em que VOCÊ aprenda (e isto nada tem a ver com o outro). karma?! Use o nome que quiser... você só sai do ciclo quando aprende. Encontre (enxergue) o aprendizado que este sofrimento de quer deixar... tente vê-lo... bendiga este sofrer como algo bom... como a vida-mestra que vem te deixar uma lição dura... a lição da vida... e a vida é mestra severa que dá a prova primeiro e a lição depois... passe na prova e descubra a lição...
E você diz então, “sempre lá no fundo a gente pensa: ‘Nossa, por que essa pessoa agiu assim?!’” Não deixe que esse pensar te afete tanto... os outros são os outros. Você só pode agir por si, não mudar o outros... é um exercício duro e diário. Mude seu jeito de pensar sobre isto, e só então mudará seu jeito de agir. Nesta altura, você me pergunta: você deixa ou, dependendo da situação, se tiver uma brecha, você tenta mostrar a ela o outro lado?! Ou para ela este lado é que é o correto e você tem mais é que aceitar no momento e pronto?! Bem, você tenta mostrar racionalmente, tenta convencer, demonstrar, sempre com o máximo possível de calma, sem se exaltar nem levantar a voz, que isso é denotativo de perda da razão. Se por fim, não der certo, paciência, você pode tranqüilizar sua consciência, fez sua parte... fácil falar, né?! Na maioria das vezes a gente se excede (risos) Certo é, a vida vai provar ao outro o quanto ele pode estar errado, ou não, se for o caso de você ser o errado no tocante a dada questão... É uma visão mais otimista e aproxima você daquilo que almeja... os grandes – Gandhi, Buda, Cristo, etc. – só mudaram o mundo (já se disse) porque mudaram a si mesmos.
Você, amigo leitor, pode estar se perguntando agora, mas eu só espero das pessoas o normal. Acontece que não existe tal coisa: o normal, o padrão?! Isto foi estabelecido por quem?! Quem dita o que seja ou não seja normal num mundo onde todos são diferentes e onde a igualdade é meramente formal, no papel... (e, por vezes, nem tanto)?! Todos somos diferentes! Cada um age e pensa de um jeito, com alguns pontos comuns, aqui e acolá (e olhe lá)! O sábio Emmanuel diria: "sede rigososos consigo mesmos, e indulgentes com o próximo." Eis aí uma bela tradução de nossa missão... O bacana é que, quase sempre, ainda que pensando e agindo diferente, todos o fazem (e mais das vezes) tentando acertar. Por isso, cabe aqui um conselho: faça você, cobre de você, espere de você... e, ainda assim, sem tanto rigor, sem tanto peso. Pense assim: ‘fiz o meu melhor, se deu certo bem, se não deu, não vou pirar ou morrer por isso.’
Sejamos como a abelhinha da fábula infantil que levava a gotinha de água, afim de apagar o incêndio, sem se preocupar que os elefantes , os leões e os outros animais maiores, vissem, atônitos e preguiçosos, as chamas devorando a floresta inteira – sua casa, seu lar - sem nada fazerem! Sendo já até um pouco pragmático, diria isso: por vezes, é melhor focarmos a missão do agora que a missão de um amanhã longínquo e distante... é que só se chega no amanhã promissor se se planta boas sementes no labor diário do agora!

Francisco de Sousa Vieira Filho

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