The Lair of Seth-Hades: DA EMBRIOLOGIA AO SOL
Arte: Meats Meier - http://beinart.org/artists/meats-meier/gallery/meats-meier-2.jpg

Presente do amigo Zorbba Baependi Igreja - artista plástico, poeta e um dos idealizadores da Revista Trimera de Letras e do Projeto Academia Onírica [poesia tarja preta].

LIRA ANTIGA BARDO TRISTE & LIRA NOVA BARDO TARDO

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segunda-feira, 5 de maio de 2008

DA EMBRIOLOGIA AO SOL


DA EMBRIOLOGIA AO SOL
Frutos de um inconcluso diálogo noturno
(com algumas supressões e adições, a tornar tudo mais compreensível)



FF - Lembro que, quando estudava embriologia, no segundo grau – o que depois se reavivou ainda mais por ocasião do contato com alguns colegas de faculdade que pensavam de modo similar e até de forma bem mais elaborada – sempre achei extremamente parecidos alguns dos estágios por que passa o embrião humano a algumas outras espécies animais, como que reproduzindo, em nove meses, os estágios evolutivos pelos quais teríamos passado, em milhões de anos, até atingirmos a condição humana. Ora vemos neste processo estruturas similares a brânquias, ora algo como uma calda (cóccix), por vezes outras estruturas similares a nadadeiras... seria isto uma prova da evolução?! (...) Penso que o barro ainda seria uma brilhante metáfora para explicar as coisas... racionalização da fé?! – talvez – mas, como então um ser mais evoluído explicaria para um recém-coroado com a razão, todo o complexo processo evolutivo pelo qual passou até atingir a condição de ser racional, senão sendo metafórico como o seria um pai ao explicar ao inocente rebento que ele veio de uma semente sua (do próprio pai) e de sua mãe, falando, assim, a verdade, adequada, porém, ao nível intelectivo do interlocutor?! E as escrituras dizem: "Deus criou o mundo em sete dias" (...) e complementam: "um dia para Deus é como mil anos e mil anos para Deus são como um único dia"... ora, o que representaria o tempo para quem é eterno, para quem não tem como parâmetro a morte, para quem não envelhece, nem perece, seja este lapso de um único dia ou de milhares de anos?! – Eu respondo: – NADA! Para este pretenso alguém o tempo nem sequer existiria. Para ele, tanto faria um dia ou um sem-número deles... há a existência – que não cessa –, nada mais... E, afinal, o que seriam os oceanos primitivos (ou os sistemas menores – pequenos lagos e poças) em que se teria originado a vida, senão – metaforicamente falando – barro?!
FFF - O problema é a necessidade de antecedência para que se solucione a questão de que um Ser Criativo materialize a criatura, se não leva em conta que o próprio tempo pode ter se originado em um dado momento – o tempo sendo, ele também, uma criação... ou seja, se o tempo teve um início, isto solucionaria a necessidade de antecedência...
FF - É como se diz: "se todo efeito tem uma causa" – e pode-se presumir seja racional estender: "todo efeito inteligente tem uma causa igualmente ou mais inteligente", é dizer: "todo efeito inteligente tem uma causa inteligente que lhe preceda, uma causa inteligente anterior"... revelaria, assim, um contra-senso, já que – numa reductio ad infinitum, num regressum ad infinitum – acabaríamos precisando de uma causa inteligente primeira, sem que houvesse uma causa inteligente precedente, sem que houvesse causa inteligente anterior à mesma... ora, mas se todo efeito inteligente advém de uma causa inteligente anterior, toda inteligência teria de ser, necessariamente, produto de uma que lhe fosse anterior... o problema residiria no termo "anterior"... esta causa inteligente primeira viria de “antes” mesmo do tempo, porque ela – sendo causa primeira – sê-lo-ia também a causa do próprio tempo... ou seja, estaria fora do universo causal, não possuiria causa, mas seria causa... em melhor palavra, seria causa sem ser efeito, o que é extremamente difícil de explicar para seres que enxergam as coisas de forma causal e que – ao que parece – habitam um universo e uma dimensão causal...
FFF – É... mas, nada vem “antes” do tempo... porque “antes” já é tempo... (risos) “antes” já denota uma apreensão temporal, já nos dá a idéia de um tempo anterior ao tempo em que o próprio tempo teria sido criado... o termo criou “antes” do tempo nada mais faz que alocar esta nossa causa primeira (seja ela Deus, Inteligência Suprema que Coordena o Cosmos, Lei Universal Primeira, Energia Superior, ou qualquer outro rótulo que queiramos lhe dar, sem que a indumentária vocabular tenha nunca a pretensão de explicar o que seja, suas características e nuances, senão sendo uma escolha de quem pouco conhece sobre aquilo de que fala...) como causa que, por ser primeira, precede ao próprio tempo...
FF - Deve ser por isso que, na linguagem iniciática, os Gnósticos (e São João, apóstolo, o do Apocalipse, era...) chamavam-no de 'Eu Sou'... como Aquele que É, (que não foi, nem será...). Note-se que o verbo está – perenemente – no presente. Motor primeiro aristotélico?! "E o verbo se fez carne”... e não à toa hoje nos damos conta de alguma nuance da verdade por trás destas palavras... acaso todo o nosso universo não se revela lingüístico, informacional?! Ou uma cadeia cromossômica não é, nada mais, nada menos, que informação (genética)?! Há até quem diga - viagens à parte - que o nosso planeta (Gaia?!) gravaria informações, o desenrolar da história, o tempo... (egrégoras?!)
FFF - concordo, pois, que o verbo se fez carne, deixando essencialmente de ser verbo... tenho pensado que vida é a percepção de alteração no ritmo entrópico – um refrear da maré entrópica – que é traduzível como informação... vida é informação e tal qual energia, as formas de vida seriam intercambiáveis... talvez, um dia, consigamos transferir as informações (orgânicas e não-orgânicas) para uma outra estrutura, tal qual no filme “o Homem Bicentenário”... será?
FF - Li uma reportagem na revista "Carta Capital", falando exatamente disso: da possibilidade de criação de inteligência artificial. Pesquisadores como um Daniel Dennett (por vezes tão tresloucado quanto um Richard Dawkins, a querer fincar bandeira de fé ateísta, abdicando da isenção e do afastamento mínimo a que deve ter um homem de ciência, não misturando suas esferas de atuação...), ou um Francis Crick que apostou comer sua tese se a proposição que levantava estivesse errada (e estava – risos...), abrançando como artigo de fé sua própria teoria e não a possibilidade de encontrar uma visão mais precisa e depurada sobre o tema... bem, ele cria que o DNA fixasse a arquitetura do cérebro, ao passo que um Gerald Edelman o contraditaria com maestria, já tendo ganho o Nobel de Medicina exatamente frente às idéias de Crick. Vejamos: mais uma vez recaímos no velho jogo de palavras – o orgânico e o não-orgânico numa cadeia infinita (ou quase), se nos fosse possível regressar, teriam vindo de uma só substância, de uma só "coisa" (monismo?!)... então, descobrindo-se a chave, pode ser que consigamos – um dia – reduzindo tudo a uma unidade básica (talvez nem a menor ou a inicial nessa escala que originou todas as coisas), a ponto de que possamos transferir informações entre estruturas que tomamos como diferentes, embora sejam iguais (provindas de uma mesma unidade, de um ponto de convergência comum)... Heráclito já nos dizia: "Tudo é Um"... a querer nos referendar que todas as coisas estão – de fato – interligadas. E lembrar que a vida é fruto do sol, tudo o que temos hoje sendo mera diferenciação de algo primário que, a curto prazo (apenas alguns poucos bilhões de ano), teria vindo de uma unidade redutora de tudo... penso que a unidade redutora de tudo mais próxima de nós seria exatamente o sol (não à toa cultuado como divindade no seio dos mais diversos povos – e nalguns por este exato motivo – como nos lembra o documentário alemão “Zeitgeist” – “espírito do tempo”). Ora, a própria terra, o globo terrestre, foi, um dia, uma pequena fagulha que se desprendeu do sol. Pequena bola de barro... simples massa incandescente que, paulatinamente, foi se resfriando. Por diferenciação (Hélio, Hidrogênio, Carbono, Oxigênio, etc.) foi aos poucos produzindo em seu seio água, aminoácidos, vida (coacervados), seres anaeróbicos, plantas primitivas fotossintetizadoras, seres aeróbicos, etc. Enfim, há algo mais que o mero entedimento metafórico que fazemos da sabedoria oriental ou do que propagaram os filósofos pré-socráticos, ao dizerem: “somos filhos do sol” ou “tudo é um”! Isso dá um novo sentido ao "amai ao próximo como a ti mesmo", porque, de fato, - talvez - acabe sendo... (risos)... É meio louco pensar que homens a 600 anos antes de Cristo, ou bem mais que isto, poderiam estar incrivelmente certos... Newton diria "enxerguei longe porque me apoiei em ombros de gigantes", a referir-se não apenas aos físicos clássicos, mas também (como viria a denunciar depois) aos filósofos pré-socráticos...
FFF - este espanto de que como “os Heráclitos" conseguiram pensar há tanto tempo tão corretamente me reporta a uma reflexão... Reflita, caro amigo, sobre a seguinte questão: de quanta informação (neste caso com um sentido de dados) precisaríamos para que possamos tomar uma decisão corretamente? Ora, a cada momento se pode obter mais e mais dados sobre um dado processo, e assim podemos pensar que a cada momento poderíamos melhorar nossa capacidade de, acertardamente, opinar – com razoável grau de certeza. Mas, se não nos rendermos a esta conclusão (talvez apressada) podemos verificar que se o tempo é "infinito" à sua frente, teremos possibilidade também "infinita" de coletar novos dados, nos legando a nunca encontrarmos uma quantidade suficiente a secundar a solução precisa, sempre tendendo à perfeição, mas nunca capazes de atingi-la. Uma nova questão surge: o que é uma amostra dentro do infinito? Qual percentual uma amostra qualquer, por pequena ou colossal que seja, representa dentro do infinito? – Portanto, será que realmente precisamos tanto assim de dados para acertadamente pensar? Assim, é possível que tantos antes de nossa era cristã já tivessem pensamento tão evoluídos, mesmo não contando com os instrumentos fantásticos com os quais contamos agora?
FF - Já diria alguém mais sábio que "a simplicidade beira a perfeição"... e pensar em quantos bilhões de anos devem ter sido necessários para que passássemos de uma simples bactéria anaeróbica para um ser aeróbico... o trabalho de alguns seres resume-se apenas em respirar... este trabalho foi necessário para que, hoje, pudéssemos ter nossos corações batendo sem que precisássemos nos deter para tanto (simpático e parassimpático)... tudo isto se automatizou em nós, em nosso estágio... e para quê?! Para que pudéssemos pensar!!! Hoje, nos é requerido algo mais ousado que automatizarmo-nos em comportamentos físicos, mas automatizarmo-nos (interiorizarmos) o agir correto (o agir moral)... fico pensando se um Cristo, diante de uma encruzilhada moral, cogitava o infinito leque de opções que temos. Penso que não. Para ele era como respirar, automático (ele parecia não precisar cogitar as opções negativas – menos acertadas; ele parecia não precisar pensar o mal, apenas o correto), como parece ter feito ao dizer: "dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus"... se tivesse dito qualquer outra coisa, ou seria linchado pelos Judeus (que não queriam pagar impostos a Roma) ou seria preso pelos soldados (por incitar o não pagamento de impostos) Havia uma única resposta correta para a questão! E foi a que ele ofertou! Lembra-me Kant, quando, certa feita, soldados adentraram à sua sala de aula, procurando por um criminoso que por ali havia passado em fuga. Ocorre que o criminoso se instalara exatamente debaixo da mesa ed Kant. Os soldados inquiriram a todos os alunos, sem, no entanto, obter resposta satisfatória. Já de saída, um deles retorna e lembra de perguntar ao professor. Kant o entregou, sem titubear, dizendo a verdade... talvez a verdade aí não fosse exatamente a resposta correta... e, por fim, Kant teria repreendido ainda a todos os seus alunos, porque, quando foram inquiridos pelos soldados, mentiram, ao passo que ele, ao ser perguntado sobre a localização do criminoso, falou a verdade... como um amigo meu externou certa vez, ele bem que poderia ter dito: “eu não posso lhe dizer”, ou algo assim... e lembrar que seu imperativo categórico nos exorta: “o céu estrelado diante de mim [a nos reportar às leis universais], e a lei moral em mim [a falar de leis morais similares em nosso íntimo].” Sócrates, professando o “conhece-te a ti mesmo” do pórtico de Delfos, argumentava que, se a Divindade nos pôs mais próximos uns dos outros é que quer conheçamos uns aos outros antes de conhecermos às distantes estrelas (como propuseram os pré-socráticos, cada um com sua cosmologia peculiar), e, se nos pôs mais próximos de nós mesmos que de qualquer outra coisa, é que a nós mesmos devemos nos conhecer, antes de tudo o mais. Penso que, se é verdade originamo-nos todos de uma só coisa primária, as respostas para os mistérios do cosmos repousarão tanto no íntimo do homem como no de todas as coisas mais... “o microcosmo reproduzindo o macrocosmo”... vejamos: uma simples célula epitelial possui material genético para desenvolver todo um ser humano, todavia, ela só reproduz outras células epiteliais, mas resguarda em seu seio, o DNA da construção de todo um indivíduo... “a parte contém o todo, como o todo a contém”... Mais uma vez recaímos nos incríveis acertos desses gigantes, a que hoje nossa ciência, nossas ilações e nosso saber só referendam... só podem referendar...
Francisco de Sousa Vieira Filho
e
Flávio Furtado de Farias

2 comentários:

Wisley Aguiar disse...

Caro Francisco. Parabéns pelo seu blog. Continuemos assim, escrevendo para mostrar o amor ao saber pelo saber...

Abraços

Francisco de Sousa Vieira Filho disse...

Valeu, Wesley!
Parabenizo-te também pelo seu, de que gostei muito, e "add" aqui inclusive...
Forte abraço, brother.