terça-feira, 17 de novembro de 2009
A SUTILEZA DA ARTE PRA QUEBRAR A LONGA AUSÊNCIA...
CORPUS CIRCENSIS
Para o amor, eu hei perdido o tato.
Que na peça da vida então me resta,
Se é só o encenar de um simples ato?
Deixar de a tudo antever pela fresta
É como melhor posso resumir o fato.
Se me basta, só, o ardor das meninas,
Adejo pra bem longe todo o fino trato
E me atraco feroz em suas ancas ferinas.
Francisco de Sousa Vieira Filho
ÂNSIA
Fome de ti
Sede de ti
Brilham no olhar
Dançam nas lágrimas
Escorrem nas páginas
E mesmo antes
De o solo tocar
Morrem
Ainda no ar
Francisco de Sousa Vieira Filho
ÚLTIMO LANCE
Lancei na tela cinza destes dias
Antes fosse fúria, antes desespero
Tão fartas cores e com tal esmero
O que pensei que só tu poderias
E a divisar sob essa leve cortina,
O que pra bem longe dessa sina
Quero espraiar tudo o que de bom
E fazer ecoar minha voz, o som
E o que de mais puro e belo há
Em mim, em ti se faça o atiçar
Como se um talhe do teu beijo
Aquele derradeiro, que deixou
Rasgue novamente o que ficou
Francisco de Sousa Vieira Filho
DIRETA
Ah, se essa dor de não te ter
Transladasse o espesso vão que há
Entre a vontade e o agir, a se fazer
Como se coisa real em seu lugar
A mais do que com os olhos entreter
[Tocar, cheirar, beijar, morder]
Pusesse então diante a me mostrar
O fulgor que habita neles, bem-querer
Estrangulando esse desejo de sumir
E em si fazendo novo o velho ar
Viria a uma vez mais te consumir
O que persiste em mim, a ti arder
Vontade de assim poder te amar
E só então nos poderemos possuir
Francisco de Sousa Vieira Filho
FOSSO
De explorar a geografia branca
Algo recurva de teu dorso
E nas tênues covas de tua anca
Demorar-me, resoluto
E tal seja o esforço
Sei que sentes
Quanto luto
Se entre dentes
Com uma rosa afagar-te
O rosto
É a ânsia de assim amar-te
Qual um corso
Porque amar
Ah... amar é fosso!
Francisco de Sousa Vieira Filho
SENTIDO
Das metas tuas, só metades
Se a ti eu peço: traga tudo
É que, por certo, eu trago tudo
Em borrifadas muito fartas
De nuvens extáticas de sonhos
E em longos e massivos haustos
Seguimos desatinando os nós
E por fim desafogamos sós
Dos temores mais medonhos
E assim se vai
A vida
Francisco de Sousa Vieira Filho
BRASÃO
A solidão ardente prega peças
Intensifica sentimentos poucos
Cria outros sentimentos tantos
Engana, mente e faz pareças
Vagar a esmo pelos cantos
Francisco de Sousa Vieira Filho
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2 comentários:
Rendo-me a sua poesia, muito boa, e deixo un soneto meu, meua PARABÉNS,
Efigênia
TEATRO DA VIDA
Efigênia Coutinho
A minha vida é derradeira peça
Que vai sendo vivida em vários atos
Com diferentes vidas e retratos,
Sempre sorrindo com sua esperança.
Com porte,não há mal venha vencer,
Cuido para não criar-lhe desavença.
Vou encenando todos estes atos
Desta nova etapa,reviver fatos.
Outras vidas deixarei na história,
Só desejo conter nesta memória
Os bons momentos aqui tão vividos.
Se neste novo ato, nova infância,
Se sendo de alva significância,
É a soma dos tempos já vividos..
Balneário Camboriú
Novembro 2009
Apreciei mt. os seus tb., Efigênia... seguindo os blogs... ;)
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