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terça-feira, 15 de abril de 2008
O MISTÉRIO DA VIDA
O MISTÉRIO DA VIDA
O que é vida para que julguemos 'quando ela inicie' (fecundação, nidação, etc.), como acabe (experiências de quase-morte, ressuscitamento, reanimação), se é que temos elementos para dizer que realmente acaba?!
Uma proposição expressa por Lavoisier, assim nos exorta: “na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”
É algo para pensarmos mais detidamente.
Ainda hoje a nossa Ciência reluta entre admitir ou não a “vida” de um simples vírus, ora por não ter autonomia reprodutiva independente do ser ‘de que seja hóspede’, ora por não possuir – via de regra – mais que uma simples cadeia de RNA, entre outras justificativas mais neste sentido. E tal entendimento tende a persistir, muito embora este simplório ser, supostamente ‘não vivo’, seja extremamente eficaz em destruir a complexidade da vida que rema contra a maré entrópica, a fazer com que tudo descambe de um estado de maior complexidade para um de menor complexidade, o que nos faz parecer seja a fronteira que prediz um determinado nível de complexidade como sendo vida (como soubéssemos, com precisão, catalogá-lo como tal), nada mais seja que um simples rótulo e não um conhecimento preciso da realidade.
Não poucos são os debates de cunho científico, moral, religioso e político que tentam perscrutar o início da vida em questões como o aborto. E tal estado de coisas tende a continuar inconcluso, diante dos nossos conhecimentos de até então.
E a despeito de que sequer saibamos o que seja a vida, julgamos não havê-la em outros orbes de nosso sistema solar ou quaisquer outros em meio à vastidão do cosmos infinito, simplesmente, por não terem condições semelhantes às de nosso planeta (por não ser vida similar àquela em que encontramos em nossa Terra ). Ou por — mesmo usando poderosas lentes — nada conseguirmos ver. Acaso a vida se resume e se faz afeita tão-somente àquilo que podemos ver?! Assim temos sido forçados a pensar ou nos tem parecido mais conveniente. Mesmo os poderosos equipamentos e recursos que captam diversos espectros visuais vão pouco além do ultravioleta e pouco aquém do infravermelho, há os que alcancem raios-X, vá lá, mas não abraçam o vário plano de visibilidade, ou seja: não vêem tudo o que há! E que conclusão podemos tirar disto?! Que só consideramos vida aquela que for similar à que conhecemos — se é que conhecemos por inteiro mesmo aquela que se instala neste plano visual delimitado em que nos encontramos. Acaso existe impedimento de que haja outras formas diversas daquelas que normalmente confrontamos? (alguma não baseada em carbono, por exemplo). Olvidarão nossos ilustres cientistas que, ignorando o que seja a vida, igualmente ignoramos as condições, os modos, os meios em que ela se dá?! Esquecerão também quão pequeno e estreito é o limite da faixa de freqüência visual dos homens desta terra?! Assim sendo, muita coisa há que não vemos e — por não sabermos o que é vida — desconsideramos que, dentre as muitas coisas que não vemos, vida pode haver – numa conformação diversa da nossa que seja.
Plagiando Fernando Pessoa, arremataríamos com o seu dizer: "a vida é uma estrada; a morte, uma curva. Morrer é só não ser mais visto."
Francisco de Sousa Vieira Filho.[1]
Também disponível em:
http://www.portalodia.com/jornal/pages/pdf_15-11-2007_6_20071115171637.pdf
[1] Francisco de Sousa Vieira Filho é advogado em Teresina-PI, militando principalmente na área trabalhista, professor de Filosofia Jurídica e Criminologia (FAESF – Floriano-PI), especialista em Direito Constitucional e mestrando em Direito pela Universidade Autônoma de Lisboa – UAL.
Marcadores:
crônica,
filosófico
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2 comentários:
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viver e não viver no plano orgânico não é assim tão diferente quanto se pode imaginar a princípio. Isto porque atendem ambos, coisas vivas e não-vivas, às mesmas leis. E, embora se teime em dizer que viver é um constante desafio à segunda lei da termodinâmica, isto não é bem assim. Acostumamo-nos a à necessidade de classificar. Porque classificar ajuda a entender. E assim entende-se a necessidade de dizer isto é vivo e isto não o é. É simplista, como já afirma o autor do Blog. Assim, até aceitamos, frequentemente, dizer que a vida rema contra a maré, mesmo que não o faça. E não o faz. A vida não rema contra a maré. A vida (orgânica) segue a mesma correnteza, e sentido. Sentido diga-se objetivamente no sentido físico mesmo. A vida é assim, também, entrópica. E, pode-se-ia perguntar alguém que história é esta, afinal este alguém se percebe indivíduo e se percebe vivo, e tudo mais um tanto quanto complexo. Mas, desculpe-me este alguém, a entropia já nos revelou que a vida é também entrópica e saõ força entrópicas que governam a vida. Com muita boa vontade, e isso até que tenho, vislumbra-se que a vida desacelera o processo entrópica. Retarda-lhe. Mas, de forma alguma lho desafia. As forças que governam a vida são de dissipação. Mais que se gasta para manter o menos. A pedra, se ainda continua quente, é porque ainda não houve tempo para perder todo o calor do dia ensolarado, mas, na madrugada fria, perderá seu calor. A vida é pois o desacelerar do movimento entrópica. Um obediente desacelerar. Mas, sem enfrentar a Lei de que toda a energia tende a se dissipar. E nós trabalhadores assalariados é quem bem entendemos de entropia.... afinal, se inserirmos constantemente energia no sistema, digo capital nas finanças, rapidamente sucumbimos. A nossa vida financeira atende à segunda lei da termodinâmica, tende a dissipação de energia, digo de capital. abraços, e parabéns pelo Blog.
Waw! Brilhante comentário! A idéia é mesmo esta: fazer deste espaço um espaço de discussão. Mais que a mera leitura dos textos, que eles sirvam de gancho para uma troca produtiva de informações.
Pois bem, compreendo precisamente que, pela 2a Lei da Termodinâmica, mesmo a vida, fazendo os níveis de complexidade se elevarem (e somente neste sentido pus que se contrapunha à maré entrópica), o faz a custa da complexidade de outros sistemas (alimentação, no nosso caso), dissipa - como o(a) colega anônimo(a) bem se expressou - a energia de outros tantos sistemas mais.
A complexidade do sistema orgânico humano, por ex., se mantém à custa preciosa de que, alimentando-nos, destruamos outros tantos sistemas mais (animal, vegetal, mineral...).
Assim, o nível de desorganização é crescente, ainda que o seja para manter a ordem do sistema que do outro se vale para tal fim. Quando falei, a vida ruma contra a maré entrópica fui bem restrito neste dizer, atendo-me tão-só ao referencial (e perspectiva) da ordem que subsiste, paulatinamente mais complexa que seu estado anterior. Todavia, fica ainda uma pergunta no ar e que inda mais firma o meu dizer: 'se a complexidade só se mantém à custa do consumo (desorganização) da complexidade de outro sistema, teríamos que, num 'regressum ad infinitum' teria de haver surgido (por imposição lógica) um sistema inicial (coacervados?!) que rumou contra a maré entrópica sem se valer de um outro qualquer como degrau para tanto... :)
Afora isto, como o enfoque central do texto foi outro, a questão da definição do que seja vida, da fronteira nebulosa que há entre o que chamamos vivo e não-vivo, creio tenha cumprido bem o seu papel. Assumo aqui o 'mea culpa' por não ter sido preciso quanto às circunstâncias em que afirmei a vida rumasse contra a maré entrópica, abstraindo a perspectiva dos sistemas consumidos para tanto.
Valeu, amigo(a) anônimo(a), obrigado pela participação. Agradeceria a oportunidade de novas incursões e diálogos outros com você.
Forte abraço.
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