quinta-feira, 21 de abril de 2011
RASCUNHO & RATIO
RASCUNHO
Aprecio o quedar-se no rascunho
A beleza que se faça incompleta
Imperfeita, feita o próprio punho
Que, na criação, é desafio esteta,
Torto caminho, para bellum meta
Do que se quis fosse testemunho
Que mais belo do que a linha reta
É aquela, em que, com esse cunho,
Se despeça de pretensão perfeita
E que por amor à linha rarefeita
Nela inda mais gênio se pressinta
É o que sinto, quando, certa feita,
Se um fio escapa por tua nuca e deita
Te faz arte com a mais bela tinta
Francisco de Sousa Vieira Filho
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RATIO
A visão não confere a dimensão
Real, do que, de fato, possa haver
Nem leva à necessária conclusão
De que se baste ver pra conhecer
É estranho se precise ver pra crer
Como estranhos abismos o são
Os que se abrem entre ter e ser
E a tudo nubla, devora a menção
De que pra conhecer só baste ver
Quanto mais se demanda à noção
Quer tenhamos uma tal pretensão
Se é a razão que nos faz perceber
Ou se um dado inda falta pra ver
Que, de amor, careça a equação
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FOTO: mool-yer-zeen-ya.tumblr.com [ tumblr_lhussgff801qb97vko1_500.jpg ]
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filosófico,
soneto
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10 comentários:
são os olhos de profunda sensibilidade para desvendar
toda bela estranheza quando
a própria visão turva-se
diante da magia
e do assombro
...
Camarada Francisco,
belíssimos poemas!
forte abraço.
ah, isso de ignorar a perfeição, por ora, cai muito bem.
ótemos teus poemas, como sempre.
bom voltar a este espaço.
abraços
A razão nos faz perceber certas imperfeições e são essas imperfeições que criam a beleza de tudo.
assimetria do belo.
ótimos sonetos. fulgurante a primeira quadra de 'Rascunho', com a precisa imagem da imprecisão fundamental.
abraço
são os olhos de profunda sensibilidade para desvendar
toda bela estranheza quando
a própria visão turva-se
diante da magia
e do assombro
Obrigado pela presença e impressões sempre profícuas, Domingos! Forte abraço! :)
É ignorar a perfeição, por vezes sonho, inatingível, pra abraçar a beleza no imperfeito, no factível...
Forte abraço, Í.ta**
:)
Divisar o belo no imperfeito, no falho, no humano, como aprecia o expert na obra antiguíssima, mais as ranhuras que o tempo lhe fez, que as pinceladas do artista, é algo raro, extremamente raro... que se dirá de ver o belo no feio, ou mesmo no grotesco, na arte de cunho soturno, na decrepitude das velhas construções, na madeira podre, naquilo que trás e guarda a mesma marca que nos marca o tempo dos ponteiros. Gostar da vincada pele como goste dos sulcos da rocha esculpida que o tempo pacientemente desgasta – acaso isto não é amor?!...
Forte abraço, Medeiros Alencar! :)
Assim.é.triaGEM... :)
Enorme xêro, Vanessa!
ótimos sonetos. fulgurante a primeira quadra de 'Rascunho', com a precisa imagem da imprecisão fundamental.
Seja bem-vindo por cá, Wilden Barreiro! Obrigado por suas palavras e impressões. Forte abraço! :)
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