Me sinto meio assim
Quando te dói em mim
Que sou teu meio-tudo
Se fico meio-mudo,
Tu falas por mim
Que sou teu meio-pai
E teu meio-amigo
Um meio teu irmão
E também inteiro-amante
Teu servo, meio-cão
Aonde for te sigo
E nesse meio estou
Um meio que teu filho
Por fim, se nessa arte
Exato meio eu sou
És tu aquela parte
Daquilo que me vou
Francisco de Sousa Vieira Filho
DESEJOS
Só um desejo oculto por vez
É que se revela
Por menor o toque, em tua tez
Tão alva e bela
O de querer te abrir a mente
Ou te escancarar as pernas
De um ou outro se pressente:
No negrume de cavernas,
Um se aterra e se oculta;
No alçar vôo e içar velas,
Outro assoma e avulta;
Por ambos
Em ti mergulho
Descambos
De meu orgulho
Um é sol
E o outro é lua
O crisol
E a fome tua
Se um vem, o outro se ia
Também morre e o outro vai
Mata a fome e se sacia
Estertor de um simples ai
De quem assim sente
E a si sente
Em eterno ciclo
E constantemente
E se em ti florir
Eu quereria
Florir-te-ei
Florir-te-ia
Francisco de Sousa Vieira Filho
Para o amor, eu hei perdido o tato.
Que na peça da vida então me resta,
Se é só o encenar de um simples ato?
Deixar de a tudo antever pela fresta
É como melhor posso resumir o fato.
Se me basta, só, o ardor das meninas,
Adejo pra bem longe todo o fino trato
E me atraco feroz em suas ancas ferinas.
Francisco de Sousa Vieira Filho
ÂNSIA
Fome de ti
Sede de ti
Brilham no olhar
Dançam nas lágrimas
Escorrem nas páginas
E mesmo antes
De o solo tocar
Morrem
Ainda no ar
Francisco de Sousa Vieira Filho
ÚLTIMO LANCE
Lancei na tela cinza destes dias
Antes fosse fúria, antes desespero
Tão fartas cores e com tal esmero
O que pensei que só tu poderias
E a divisar sob essa leve cortina,
O que pra bem longe dessa sina
Quero espraiar tudo o que de bom
E fazer ecoar minha voz, o som
E o que de mais puro e belo há
Em mim, em ti se faça o atiçar
Como se um talhe do teu beijo
Aquele derradeiro, que deixou
Rasgue novamente o que ficou
Francisco de Sousa Vieira Filho
DIRETA
Ah, se essa dor de não te ter
Transladasse o espesso vão que há
Entre a vontade e o agir, a se fazer
Como se coisa real em seu lugar
A mais do que com os olhos entreter
[Tocar, cheirar, beijar, morder]
Pusesse então diante a me mostrar
O fulgor que habita neles, bem-querer
Estrangulando esse desejo de sumir
E em si fazendo novo o velho ar
Viria a uma vez mais te consumir
O que persiste em mim, a ti arder
Vontade de assim poder te amar
E só então nos poderemos possuir
Francisco de Sousa Vieira Filho
FOSSO
De explorar a geografia branca
Algo recurva de teu dorso
E nas tênues covas de tua anca
Demorar-me, resoluto
E tal seja o esforço
Sei que sentes
Quanto luto
Se entre dentes
Com uma rosa afagar-te
O rosto
É a ânsia de assim amar-te
Qual um corso
Porque amar
Ah... amar é fosso!
Francisco de Sousa Vieira Filho
SENTIDO
Das metas tuas, só metades
Se a ti eu peço: traga tudo
É que, por certo, eu trago tudo
Em borrifadas muito fartas
De nuvens extáticas de sonhos
E em longos e massivos haustos
Seguimos desatinando os nós
E por fim desafogamos sós
Dos temores mais medonhos
E assim se vai
A vida
Francisco de Sousa Vieira Filho
BRASÃO
A solidão ardente prega peças
Intensifica sentimentos poucos
Cria outros sentimentos tantos
Engana, mente e faz pareças
Vagar a esmo pelos cantos
Francisco de Sousa Vieira Filho
25 comentários:
toda vez que venho ler seu blog na hora de comentar fico sem palavras
me sinto meio assim...
MEIO ASSIM... foi a entrada do banquete que você nos deu hoje, os demais pratos, voltarei para saborea-los no decorrer do dia, já que 2010 para mim, está começando hoje, com força total.
beijinho e Bom dia, boa tarde ou boa noite, importa é que seja BOM!
Bela safra de poemas, meu caro!
Abraços,
Lou
Oi, Mateus, tudo bem? Obrigado pelas palavras e pela visita freqüente... [ainda que se diga sem palavras, por vezes fala-se mais sem... obrigado]
P.S.: estes poemas já havia postado faz um tempo, mas estava lá no finzinho do blog, resolvi 'REssusCITÁ-LOS' uma vez mais... ;)
Que 2.010 te possa possa começar com a mesma garra e intensidade todos os dias mais...
Bjaum, Silvia!
Oi, Lou, seja bem-vinda... o covil está de portas abertas...
P.S.: te encontrei lá no blog do H. Pimenta [Bar do Bardo], mas uma coisa me deixou curioso: o que é o gato da odete? Um blog, pseudônimo de alguém? :)
"Meio-assim" - farejo love.
Destaco em "Desejos" -
Mata a fome e se sacia
Estertor de um simples ai
(Ei, você não deveria se abster de versos livres - ou quase - rsrsrs... ).
"Corpus circensis" engole fogo -
"E me atraco feroz em suas ancas ferinas."
"Ânsia" - leve elegia.
(Depois vejo o mais, com calma.)
Meu Caro,
O Gato da Odete é um blog relativamente novo que ainda deve passar por alguns ajustes. Foi idealizado pela artista plástica paulista Fátima Queiroz. É um espaço que agrega escritores e artistas de todos os cantos desse mundão. ;) Os convidados se tornam também, colaboradores. Lá a diversidade é grande. ;)
A ideia para o nome surgiu a partir de um poema da Líria Porto, que por sua vez homenageia um gato de uma pessoa chamada Odete.
Espero ter esclarecido a sua dúvida.
Abraços
Fico no quase, Henrique rs... tento fugir, mas sou cativo [da forma, da fôrma]... vez ou outra me pego pondo rima [ao menos, já que métrica seria um estupro] em versos soltos, libertinos... :D
Oi, Lou, é que andei passendo por lá e apreciei muito o que vi... mas não entendi se era um blog pessoal, um projeto, etc... ;)
Quando a chamada for colocada, esse problema será resolvido. ;)
Belíssimos poemas...deste nova chance aos que não haviam lido...muito bom mesmo!
Obrigada pela visitinha...lindo dia pra ti meu anjo....sigo teus rastros.
Bjinhos.
Oi, Felina, obrigado pela visita e pelas palavras... seja bem-vinda... apreciei muito o que vir por lá, a admiração é mútua... ;)
Um belo conjunto de poemas. Parabéns. beijo.
Beijão, Dri, e obrigado... a princípio não achei seu poema lá no Maria Clara, cheguei atrasado e errei a data... depois fui olhar com calma os que haviam sido postados antes... ;)
entre as coisas do mundo fica o que movimenta meu rosto - meu corpo perto do que sei não existir. Sempre acreditei no todo, hoje me absorvo delicadamente pelo nada.
Gostei muito dos seus escritos, tentei escrever algo que fez contato com suas palavras.
Valeu, Yan! Passei por seus espaços e apreciei muito o que vi por lá, apenas adiei comentar... Forte abraço e seja bem-vindo!
Desejos: Me remeteu a Clarice Lispector...
"A saudade é como a fome, só passa, quando se come a presença".
beijinho
...por vezes é a presença do corpo [te escancarar as pernas]... noutras tantas a da alma [te abrir a mente]... se sobrevierem os dois juntos, é jogar-se do abismo... :)
Caro Francisco, seus poemas são tensos e ao mesmo tempo livres. Gostei muito. Abraços e grato pela visita. Pedro.
Valeu, Pedro, dei uma espiadela, segui e me contive em só comentar posteriormente... correrias da semana... Forte abraço!
O conjunto (lido) é elegíaco. Generalizando, um sujeito lírico que deseja, e, nem sempre, acerta a mosca.
Mas o inseto deve ser perseguido...
Felicidades!
Boa noite,
Vamos lá aos comentários:
"MEIO ASSIM..." me identifiquei com este.Por sermos seres sociáveis o outro passa muitas vezes a ser nós, como uma família.
Ai ai.. o poema BRASÃO me faz lembrar o quanto amor é próximo do ódio..rsrs
You should follow me..I know my blog isn't as interesting as this one..I am not a writer but I need readers to read my silly words.
Fala, Bardo... uma elegiazinha de vez em qd. é bom pra quebrar o clima 'dark' do blog rs... Abraço, Henrique! :)
Oi, Sílvia, tudo bem? Gostei da análise, menina... detalhe: seus textos não são palavras parvas... ;)
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